"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

sábado, 12 de outubro de 2019

Nossa Criança Interior

Quando a gente é criança, é fácil vibrar de alegria, gritar de raiva ou pedir que a mãe da gente faça um bolo de chocolate bem gostoso. mas conforme vamos crescendo, esquecemos de como pedir, ficamos mais sérios, e criamos um monte de regras sobre como devemos ser e agir. 
No entanto, não importa quantos aniversários já tenhamos comemorado, dentro de nós mora uma criança, agora mesmo, ela esta aí, inocente, cheia de vida e pronta para descobrir todos os segredos deste mundo adulto com leveza e alegria.
Quando a gente se dá conta da criança interior e eterna que vive dentro da gente, a nossa vida se torna mais plena. Esta criança sempre está presente quando somos espontâneos, quando conseguimos nós relacionar sem medo de Ser, quando não precisamos aparentar, quando nos encantamos com o simples.
Essa criança esta presente nos olhos e na alma de cada ser humano, esperando para ser acolhida e celebrada. Sua sabedoria integral esta além do intelecto e muito perto do coração. Podemos aceitar  e acolher nossa criança em todos os momentos e em qualquer situação e nada melhor  para começar Hoje no dia das Crianças!

Desperte e acolha sua criança interior...


  • olhe para o Céu estrelado, e hoje na lua cheia, e torça para uma estrela cadente aparecer;
  • Perca o medo de sair na chuva;
  • Não se aborreça com imprevistos;
  • Acredite que não é perigoso Sentir;
  • Crie coisas incríveis sem esforço, transforme sentimentos em cores, letras, formas e sabores;
  • Faça as pazes com o tempo
  • Deite no sofá e sonhe acordado
  • tenha coragem de arriscar
FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!

domingo, 23 de junho de 2019

Adoecer no Mundo do Trabalho

Adoecer no mundo do trabalho e no mundo da vida. 
Não consigo desatrelar qualquer adoecimento seja fisico ou psiquico dessa rotina da vida.
Trabalhamos para que? para quem?
E digo que o trabalho não é o vilão nessa estrada, mas, nossa cultura de producão acelerada que tornou tudo mercadoria, ate nossa arte escoa pelos dedos, porque essa cultura esta tão arraigada em nossos afazeres que aceleramos tudo, nossa meta é alcancar. Dessa forma perdemos nossa essência, nos perdemos, adoecemos.

" o aceleramento de hoje tem muito a ver com com a carencia de ser. a sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são uma sociedade livre. Elas geram novas coerções." BYUNG HAN 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sociedade Ativa e Vida Contemplativa

Sociedade Ativa e Vida Contemplativa

Mediante uma sociedade ativa, onde todos transitam pra lá e pra cá, fazem isso e aquilo, projetam tal e tais ideias, inovam sempre e com total rapidez, professam que "tempo é dinheiro", não que toda essa rapidez seja um problema, mas a falta de equilíbrio sobre esse comportamento é uma das causas de adoecimento. A vida contemplativa segundo Byung Han pressupõe uma pedagogia especifica do ver. Aprender a ver  significa, segundo Nietzsche" habituar o olho ao descanso, a paciência, ao deixar aproximar-se-de-si", isto é,capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento. Esse aprender-a-ver seria a " primeira pré escolarização para o caráter do espirito"(Geistigkeit). Temos de aprender a " não reagir imediatamente a um estimulo, mas tomar o controle dos instintos inibitórios, limitativos". Reagir de imediato e seguir a todo e qualquer impulso já seria uma doença, uma decadência, um sintoma de esgotamento. Aqui, Nietzsche nada mais propõe que a revitalização da Vita contemplativa. Essa vida não é um abrir-se passivo que diz  SIM a tudo que advém e acontece. Ao contrario, ela oferece resistência aos estímulos opressivos, intrusivos. Em vez de expor o olhar aos impulsos exteriores, ela os dirige soberanamente. enquanto um fazer soberano, que sabe dizer NÃO, é  mais ativa que qualquer hiperatividade, que é precisamente um sintoma de esgotamento espiritual. Texto Retirado do Livro Sociedade do Cansaço.



É uma ilusão acreditar que quanto mais ativos nos tornamos tanto mais livres seríamos
Vale muitíssimo  refletir sobre!!! Qual a filosofia que rege meu comportamento? minha vida? minhas relações sociais?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Trabalho e Adoecimento

Partindo da analise de uma sociedade que trabalha e do Trabalho, onde o mesmo é ponto de referencia para da partida e da chegada "eu preciso de um trabalho para ser...feliz, bem sucedido, etc...porque eu sou bem sucedido, feliz eu preciso do trabalho." Grifos meus. Cabem aqui as palavras de NIETZSCHE: " Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos valeram tanto. Assim, pertence ás correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo".
Segundo BYUNG CHUL HAN em seu livro a Sociedade do Cansaço - A sociedade caminha para um adoecimento Neural - A Depressão é o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade. Reflete aquela humanidade que esta em guerra consigo mesma. O sujeito de desempenho está livre da instancia externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explora-lo. É senhor e soberano de si mesmo (o individuo torna-se oprimido e opressor de si), É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instancia dominadora não leva a liberdade.  Ao contrario, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho.
O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploracão. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vitima não podem mais ser distinguido. Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal que, em virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência. Os adoecimentos psiquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.



terça-feira, 27 de maio de 2014

Conceitos de um Contexto Revolucionário.


Espero poder contribuir organizando e compartilhando estes conceitos, tão necessários para nossa consciência e ação social. 

* Extraído do Livro Coleção abc - Dos conhecimentos sociais e políticos : O que é Revolução?
A.Sertsova; V. Chíchkina; L. Yákovleva.

Classe Operaria: uma das classes fundamentais da sociedade contemporânea, principal força motriz do processo histórico de transição do capitalismo para o socialismo e o comunismo. No capitalismo, a classe operaria (o proletariado) são os trabalhadores assalariados privados dos meios de produção que vivem da venda da sua força de trabalho e são explorados pelo capital.

Classes Sociais: grandes grupos de pessoas que se diferenciam entre si pelo seu lugar num sistema de produção social historicamente determinado, pela sua relação com os meios de produção, pelo seu papel na organização social do trabalho, e, consequentemente, pelo modo de obtenção e pelas dimensões da parte da riqueza social de que dispõem.

Contra – revolução:   luta da classe derrubada, ou que é derrubada pela revolução dirigida para a restauração ou conservação do regime social e estatal caduco.

Democracia Popular: forma de organização política da sociedade estabelecida em vários países da Europa e Ásia como resultado das revoluções populares dos anos 40 do século XX e que, no processo de transformação da revolução socialista, se converteu em forma de ditadura do proletariado.

Ditadura do proletariado: poder da classe operaria que se estabelece em resultado da revolução socialista e tem por objetivo a construção do socialismo e a passagem da sociedade para a edificação do comunismo. O princípio superior da ditadura do proletariado é a posição dirigente na sociedade e no Estado da classe operaria em aliança com os camponeses e outras forças democráticas.



Estado:  principal instrumento do poder político na sociedade de classes. Surgiu como resultado da divisão social do trabalho, do aparecimento da propriedade privada e da formação e da formação de classes antagônicas.

Evolução: no sentindo amplo, a noção sobre as mudanças na sociedade e na natureza, a sua direção, ordens e leis; o estado de um sistema considera-se como resultado das mudanças mais ou menos longas do seu estado anterior; no sentido restrito, noção sobre as mudanças quantitativas lentas e graduais em oposição a revolução.

Forças produtivas:  sistema de elementos subjetivos (homem) e materiais (meios de produção) que exprimem a atitude ativa dos homens para com a natureza: a exploração material e espiritual das suas riquezas, durante a qual se reproduzem as condições de existência do homem e ocorrer o processo do seu desenvolvimento.

Formação socioeconômica: sociedade numa determinada etapa de desenvolvimento histórico, tipo historicamente determinado de sociedade. A categoria “ formação socioeconômica” abrange todos os aspectos da vida social em sua interdependência orgânica. Cada formação socioeconômica assenta num determinado modo de produção, e as relações de produção constituem a sua essência; abrange também a superestrutura correspondente, tipo da família, condições de vida, etc.

Insurreição armada: ação armada de grupos ou classes contra o poder político. Um dos meios importantes da conquista do poder pela classe operária quando os meios pacíficos são impossíveis e as classes reacionárias recorrem à violência.

Luta de classes: lutas entre as classes cujo interesses são incompatíveis ou contrários; o conteúdo fundamental e a força motriz de todas as sociedades antagônicas (escravagistas, feudal e capitalista).

Marxismo-Leninismo: sistema cientifico de opiniões filosóficas, econômicas e sócio-políticas que constituem a concepção do mundo da classe operária; ciência sobre o conhecimento e a transformação revolucionária do mundo, sobre as leis do desenvolvimento da sociedade, a natureza e pensamento humano, sobre as leis da luta revolucionarias da classe operária e de todos os trabalhadores pelo derrube do capitalismo e a construção da sociedade socialista e comunista.

Meios de Produção: conjunto dos meios e objetos de trabalho utilizados pelos homens no processo de produção de bens materiais.


Modo de Produção:  modo historicamente determinado de obtenção dos bens materiais, unidade das forças produtivas e das relações de produção, base da formação socioeconômica. A substituição de modo de produção por outro ocorre por via revolucionária.


segunda-feira, 19 de maio de 2014

Resumo do Livro Nós dizemos NÃO - Eduardo Galeano.

Discurso de inauguração do Encontro Internacional de Arte, Ciência e Cultura pela Democracia no Chile. Em Julho de 1988, em plena ditadura do General Pinochet.

“Dizemos não ao elogio do dinheiro e da morte. Dizemos não a um sistema que põe preço nas coisas e nas pessoas, onde quem mais tem é quem mais vale; dizemos não a um que destina dois milhões de Dolores para as armas de guerra, enquanto mata, por minuto, 30 crianças, de fome ou doença curável. No Brasil de hoje, destinamos bilhões as pompas do Carnaval, do Futebol, da corrupção... a bomba de nêutrons, que salva as coisas e aniquila as pessoas, é um perfeito símbolo do nosso tempo. Para o sistema assassino que em objetivos militares as estrelas da noite, o ser humano não é nada mais do que um fator de produção e consumo e objeto de uso; o tempo não é outra coisa que um recurso econômico; e o planeta inteiro, uma fonte de renda que deve render até a última gota de seu caldo.  A pobreza é multiplicada para que a riqueza possa se manter. Nós dizemos Não a um sistema que nega comida e nega amor, que condena muitos a fome de comida e muitos à fome de abraços.
Dizemos não à mentira. A cultura dominante, que os grandes meios de comunicação irradiam em escala universal, nos convida a confundir o mundo com um supermercado ou uma pista de corrida, onde o próximo pode ser uma mercadoria ou um competidor, mas jamais um irmão, ou companheiro profissional na luta por um ideal comum, por esse pensamento é que dificilmente vemos continuidade nos programas e projetos de governo, estamos sempre querendo provar que fazemos mais e melhor.  Essa cultura mentirosa, que grotescamente especula com o amor humano para arrancar-lhe mais-valia, é na realidade a cultura do desvinculo: tem por deuses os ganhadores, os exitosos donos do dinheiro e do poder, e por heróis os rambos fardados que cuidam de suas costas aplicando a Doutrina da Segurança Nacional. Pelo que diz e elo que cala, a cultura dominante mente que a pobreza dos pobres não é um resultado da riqueza dos ricos, mas que é filha de ninguém, vinda no bojo de uma couve-flor ou da vontade de Deus, que fez os pobres preguiçosos e burros.
[...] E neste estado de coisas, nós dizemos não à neutralidade da palavra humana. Dizemos não aos que nos convidam a lavar as mãos perante as cotidianas crucificações que ocorrem ao nosso redor. À aborrecida fascinação de uma arte fria, indiferente, contempladora do espelho, preferimos uma arte quente, que celebra a aventura humana no mundo e nela participa, uma arte irremediavelmente apaixonada e briguenta.(1988)

Julgamento e condenação do poderoso cavalheiro doutor dinheiro

“Todos pagam o que uns poucos gastam. Para poucos, a festa. Para todos os demais, a conta. Os lucros são privatizados, as bancarrotas são socializadas. O povo financia a repressão que o castiga e o esbanjamento que o atraiçoa.”
“através dos empréstimos, a tecnocracia impõe um modelo de desenvolvimento alheio às necessidades de cada país, que promove o consumo artificial e estimula um modo de vida importado, torra os recursos naturais, idolatra a moeda e despreza as pessoas e a terra.”

A obra de um fotografo brasileiro: Salgado em 17 imagens

“Na verdade, é difícil olhar estas figuras impunemente. Não imagino que alguém possa sacudir os ombros, virar a cabeça e afastar-se assoviando, cego e alheio, como se não tivesse visto nada.”
E fico a perguntar, quais as fotografias que vemos diariamente perante nossos olhos? O que nos mostra nossas esquina? O que vemos da janela do carro? do quarto? do ônibus? (Acréscimos meus).
“No chamado Terceiro Mundo, morrer de bala é ‘natural’. Do ponto de vista dos grandes meios de comunicação que incomunicam à humanidade, o Terceiro Mundo está habitado por gente de terceira classe, que só se distingue dos animais porque caminha sobre duas pernas. Seus problemas pertencem à natureza, não à história: a fome, a peste, a violência, integram a ordem natural das coisas.”

Cuba, trinta nãos depois: uma obra deste mundo.

Os visitantes honesto descobrem, na ilha, uma realidade alucinante e contraditória e muito terrenal. A revolução, feita de barro humano, não é obra de deuses infalíveis, nem de malignos satanases: ela é deste mundo e, por ser deste mundo, é também do mundo que virá.
A realidade desconcerta os que esperam encontrar um grande campo de concentração rodeado de palmeiras, um povo castigado, condenado ao medo eterno: é preciso muito preconceito para não sucumbir ao abraço deste povo carinhoso e reclamão, que se queixa e ri a viva voz e contagia de dignidade e frescor quem se aproximar. Qualquer um que não tenha teias de aranha nos olhos pode ver que as pessoas se expressam a todo vapor, e que é impossível dar um passo sem tropeçar em algum hospital ou alguma escola.
 Mas não se desconcertam menos os que comparecem a um encontro anunciado reino da perfeita felicidade: em cuba encontram lojas vazias, telefones impossíveis, transportes péssimos, uma imprensa que parece as vezes de outro planeta e uma burocracia que para cada solução tem um problema. A burocracia está empenhada em transformar a vida cotidiana das pessoas numa subida ao Gólgota.
[...] A burocracia, inimiga da esperança, desprestigia o socialismo. Sua assombrosa capacidade de ineficiência e seu costume de dar ordens em lugar de explicações fazem a indireta propaganda do egoísmo como destino inevitável do homem. Se fosse pela burocracia, os Estados socialistas seriam cada vez mais Estados e menos socialistas, o que equivale a reconhecer que a condição humana não merece nada melhor que o reino capitalista da cobiça.
Mas a justiça social não tem razão para ser inimiga da liberdade, nem da eficácia, e o socialismo enfrenta este tremendo desafio no mundo de nosso tempo.


Nós dizemos Não de Eduardo Galeano é um livro pequeno e bastante denso, faz uma denúncia social de forma poética. Apesar de ser um livro datado de 1990, o que tenho em mãos, percebi sua escrita atual, claro muitas coisas mudaram, o que não quero dizer para melhor, os diversos problemas sociais descritos no livro, mudaram apenas de nome, mas sua essência continua a mesma. O Fino fruto do sistema capitalista. 
 Paula Menezes.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Educação e Cultura para Amazônia.


Educação e Cultura para  Amazônia.

O escrito  foi um recorte dos autores abaixo citado.

Textos de Referência.

Ivanilde Apoluceno. Org – Cartografias Ribeirinhas Belém/PA, 2º edição. Eduepa, 2008.

Carlos Rodrigues Brandão – A educação como cultura – Campinas/SP, Mercados de Letras, 2002.

Maria Lucia de Arruda/Maria Helena P. Martins. Filosofando- Introdução a Filosofia.  São Paulo, 3º ed. Moderna , 2003



O mundo que resulta do pensar e do agir humano não pode ser chamado de natural, pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre pessoas e animais não são apenas de grau, porque enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, nós somos capazes de transforma-la tornando possível a cultura.
Em antropologia, cultura significa tudo que o ser humano produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato com o mundo é intermediado pelo símbolo como bem referência Carlos Brandão em seu texto “a educação como cultura”, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo. Dada a infinita possibilidade humana de simbolizar, as culturas são múltiplas e variadas: inúmeras maneiras de pensar, de agir, de expressar anseios, temores e sentimentos em geral. Por isso mudam as formas de trabalhar, de se ocupar com o tempo livre, mudam as expressões artísticas e as maneiras de interpretar o mundo, tais como o mito, a filosofia ou a ciência.
O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra um mundo de valores já estabelecidos, onde ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo enfim, se acha codificado. Ate nas emoções, que nos parece uma manifestação tão espontânea, ficamos à mercê de regras que educam desde a infância a nossa expressão.
A cultura é portanto, um processo que caracteriza o ser humano como Ser de mutação, de projeto, que se faz `a medida que transcende, que  ultrapassa a própria experiência. Quando o filosofo francês contemporâneo Gusdorf  diz que “ o homem não é o que é, mas é o que não é” , não está fazendo um jogo de palavras, porque o ser humano não se define por um modelo, por uma aparência, nem é apenas o que as circunstancia fizeram dele. Define-se pelo lançar-se no futuro, antecipando, por meio de projetos sua ação consciente sobre o mundo. Não há caminho feito, mas a fazer, não há modelo de conduta, mas processo continuo de criação de valores. Nada mais se apresenta como absolutamente certo e inquestionável. Eis para o Ser Humano  sua característica humana mais perfeita e nobre: a capacidade de produzir sua própria história e de se tornar sujeito de seus atos.
Segundo Apoluceno (2008) cultura se define como um lugar onde se articulam os conflitos sociais e culturais, onde se atribuem diferentes sentidos as coisas do mundo através do corpo, do imaginário, do simbólico, da participação, da interação, da poesia e no cotidiano. Nela se constituem os sujeitos e a sua identidade. E Carlos Brandão (2002) também contribui com a alusão quando nos possibilita pensar assim “a cultura configura o mapa da própria possibilidade da vida social. Ela não é econômica e nem o poder em si mesmos, mas o cenário multifacetado e polissêmico em que uma coisa e a outra são possíveis. Ela consiste tanto de valores e imaginários que representam o patrimônio espiritual de um povo, quanto das negociações cotidianas através das quais cada um de nós e todos nós tornamos a vida social possível e significativa. Quando falamos de cultura erudita e de cultura popular, de culturas indígenas, de culturas metropolitana, de cultura escolar ou de dilemas da cultura pós-moderna, estamos apenas dando nomes diferentes a evidentes diferenças de e entre pessoas através de suas culturas.”  Sendo assim Brandão define cultura como um processo e, ao mesmo tempo, o substrato de situação de enfrentamento e luta por hegemonia, autonomia, domínio, resistência e, no limite – sobrevivência.
Depois dessa alusão sobre cultura e se a educação vier despida de seus preconceitos, com capacidade suficiente não de segregar o diferente, mas de acolher as diversidades culturais da Amazônia então poderemos vislumbrar um salto qualitativo na educação dessa região tão rica culturalmente.
 
 
 
Paula Fernanda M de Menezes.
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Para o dia de " TODOS OS SANTOS"

O Ex-senador Lauro Campos (PDT-DF) leu na sexta-feira (19/10/2001), em Plenário um texto poético de sua autoria que trata da religiosidade e do modo de ser do homem e afirmou que o básico no ser humano é a dúvida, é a consciência dos limites e da fragilidade. Para o senador, ser íntegro, inteiro, coerente e pleno é assumir a dualidade.  "Ao afirmar que não tenho religião, reúno todas as crenças. E seria mais conveniente que fosse lido no dia de todos os santos.

Muito carinhosamente publico este escrito nesse dia de todos os santo como vontade do autor, que, não conheci pessoalmente, mas através de alguém cuja fidelidade com seus escrito é de alma. Prof.º Carlos Lima, obrigada por ter me ensinado a" ler".


Um Santo Para os Ateus.

“Quê? Perguntam-me se tenho religião, se creio em Deus? Gostaria de não ter religião, de ser uno e inconsútil, sem emendas, e não religado, religioso. Gostaria de desenvolver o cristal que existe em mim, a transparência que não permite colagens, religações, religiosidade.
Eu não sou uma arvore que apenas balouça seus galhos como braços desarticulados, suas folhas silenciosas e dependura seus frutos que não sabe se quer que são saborosos; eu não sou uma arvore que liga sua parte superior, viva e mutante, ao chão, por meio do tronco uno e frio. Eu sou um ser humano cuja fragilidade se afirma em cada passo que não passa de uma queda interrompida. Eu sou um ser dual, cindido desde os pés por uma ambiguidade básica, por uma fissura que me move. Meus braços e minha cabeça se plantam no meu tronco e este se equilibra sobre a fragilidade e a dualidade das pernas. Ao invés de galhos, de folhas e de frutos, agito braços desgalhados e produzo palavras, expresso sentimentos, paixões, sensações, ideias e ideais.
O que é básico em mim é a dualidade, a ambivalência, a duvida, o medo de cair e de morre. A terrível consciência de meus limites e de minha fragilidade coexiste com minha inteligência, minha força, meus infinitos a cada momento alcançados e, em seguida, ultrapassados. Minha duvida essencial, minha ambiguidade fundamental produzem uma consciência sempre angustiada, ou angustiada sempre que a consciência pousa e se apodera da intimidade do real.  Quero ser uno, íntegro, inteiro. Não quero mentir, mas não tenho forças para arrostar a verdade e a realidade angustiantes e implacáveis.
Ser coerente e ser pleno é assumir por inteiro a minha dualidade, as minhas ambiguidades; conscientizar-me de minhas duvidas e abraçar, unindo-as, as minhas partes contraditórias. Minha consciência ainda é uma ilha cinza no meio do mar de ondas negras e ameaçadoras, capazes de fazer submergir minha luz pequena.
Eu sou um palco de infindáveis diálogos entre as partes opostas que compõem a minha diversidade. Se eu fosse um homem-cristal, transparência e lucidez, eu seria um cristal quebrado, cindido, dual, porque cristal-homem.
Ao assumir minha verdade, tenho de confessar que, embora não queira admitir minha fissura, minha religação, minha reunião, e me rebele contra essa essência verdadeira, dual, ao afirmar que não tenho religião, estou dizendo que, ao mesmo tempo, possua todas as crenças, ritualizam em mim as magias primevas, existem em mim pavores e fraquezas, avoengos e mitos primitivos. Sou um ser fraco, dual e religioso:  um ser que se rendeu à verdade. Mas, se meu Selbst junguiano ou meu id e meu inconsciente freudianos são habitados por todas as religiões, mitos, crenças e fantasias, eu também sou ateu e materialista.
A ilha cinza de  minha consciência perdida quer ser continente , vencer ondas negras e brilhar. Ela sabe que o único brilho possível é o clarão angustiado do ser consciente.
Sou um velho e, de repente, desperta em mim a criança que dormia em meu esquecimento. Levanta, corre e brinca o meu eu criança.
Nos momentos de plenitude, de força, de levitação, prescindo de minhas pernas, levito. Esqueço os deuses e peco ao assumir-me como totalidade coesa e coerente. Talvez, sugere minha dúvida, ao se fazer materialista e declarar sua independência, você tenha encarnado um semideus: ao se transformar, você se hipostasiou e veio a ser apenas Narciso, o demiurgo da vaidade. E,  assim,  reafirmo a dualidade e a duvida que, junto com o trabalho e a linguagem, me produziram, me modelaram e me transformam.
O que procura, então, nessa vida sofrida, por que o olhar já embaçado, os cabelos embranquecidos por uma inquietação constante, por um trabalho continuo, por um pesquisar e indagar sem fim, se não procura a verdade, por que ela vem de mão dadas com a angustia? Se não quer ser sábio e desdenha do poder, o que deseja, então, pergunta uma parte as minha unidade à outra parte da minha diversidade. No fundo, tenho de assumir que, materialista e ateu, quero mesmo é ser santo. Não um santo qualquer, com velas nos pés, cercado de uma multidão de devotos e incomodados pelos pedidos sem fim de socorro, pelas solicitações de milagres meus....
Para cada desvalia, para cada sofrimento ou cada aflição existe im santo de plantão: o santo das crianças, o santo dos velhos, o santo dos negros, o santo dos maus políticos, o dos ladrões, e o das prostitutas. Ate mesmo os genocidas e os banqueiros tem seu santo, o que provaria a infinita misericórdia de Deus, se ele, existindo, protegesse os bons e a corja, praticando, ao nivelar os opostos, estranha e incompreensível “justiça”.
Só os materialistas e ateus não tem santo e, por isso, o santo dos ateus seria o mais humilde e esquecido de todos os santos. Logo, o menos vaidoso, o mais santo deles...”

Humildemente, candidato-me a ser santo dos ateus.
Muito obrigado, Sr. Presidente.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Por uma contra civilização Alimentar - a exemplo da Bolívia.

Precisaríamos de muitas atitudes como essa para começarmos a lutar por uma contra-civilização.

 Uma derrota da Civilização

Eduardo Galeano - Os Filhos dos dias.


No ano de 2002, fecharam as portas os oito restaurantes McDonald’s na Bolívia.
Apenas cinco anos durou essa missão civilizadora.
Ninguém a proibiu. Aconteceu simplesmente que os bolivianos lhes deram as costas, ou melhor, se negaram a dar-lhes a boca. Os ingratos se negaram a reconhecer o gesto da empresa mais exitosa do planeta, que desinteressadamente honrava o país com sua presença.
O amor ao atraso impediu que a Bolívia se atualizasse com a comida de plástico e os vertiginosos ritmos da vida moderna. As empanadas caseiras derrotaram o progresso. Os bolivianos continuam
comendo sem pressa, em lentas cerimônias, teimosamente apegados aos antigos sabores nascidos no fogão familiar.
Foi-se embora, para nunca mais, a empresa que no mundo inteiro se dedica a dar felicidade para as crianças, a mandar embora os trabalhadores que se sindicalizam e a multiplicar os gordos.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Religião e Politica no seculo XXI ?! Como separar rumo a construção de um Projeto de sociedade?

Texto do Prof. 
Jean-François Deluchey - Universidade Federal do Para.

Será que podemos resistir à mistura da religião com política no XXI século? André Malraux, ministro francês da Cultura e literato autor do romance maravilhoso "A condição humana" fez a seguinte advertência ainda no século passado: "O século XXI será religioso e não será!" Quando vejo a religião dar um sentido dogmático ao engajamento político, isto me preocupa. Não que estejamos completamente desprovidos de valores religiosos na nossa construção cultural coletiva, seria idiota sustentar tal afirmação. O que me preocupa é quando todos os projetos políticos se referenciam em assuntos religiosos, seja positivamente ou negativamente. Eu fui criado com um pai ateu e uma mãe católica, mas fui criado em um ambiente onde religião fazia parte do universo privado (a famosa laicidade à francesa). E tenho respeito demais para a fé para não considerar que isto possa ser importante para um indivíduo, que isto constrói e molda o espaço íntimo de qualquer um. Cada um tem a sua própria fé, até um agnóstico como eu. O que me preocupa é quando esse espaço íntimo, essa crença ou essa fé se torna a única maneira de se colocar como cidadão na esfera pública. Não se pode mais ser católico e socialista, muçulmano e liberal, homossexual e protestante, espírita e anarquista? O foro íntimo como berço da ação política apenas pode levar à intolerância, ao fascismo de toda espécie. Creiamos, tenhamos fé, porque isto nos sustenta perante à grande pergunta. Mas pelo amor de deus (!), deixemos de tomar a bíblia, o corã ou outra referência religiosa como se fosse nossa constituição política, o projeto que pode unir nós todos. Apesar de sua raiz latina, a religião mais divide de que une, porque ela não propõe o debate, ela impõe um dogma, uma visão particular e definitiva (portanto não discutível) de nosso ser coletivo. Dogma é contrário ao pensar. E se quisermos construir um projeto renovado de sociedade, que possa nos unir na mesma fé do amanhã. Temos de pensar e reunir esses pensamentos através da confrontação dos pensamentos. Vejo muitos amigos, colegas e estudantes que confiam cada vez mais na religião para construir um outro amanhã, e um outro "eu". A vida espiritual não é um projeto político, é uma vivência íntima. Essa vivência íntima pode lhe oferecer um caminho de vida particular, é obvio. Mas nunca deixará de ser uma experiência íntima e nunca deve deixar de ser. A solidariedade é possível de expressar através da fé cristã, da fé muçulmana, da fé espírita ou de outra fé, claro que sim. Mas uma idéia política supera, em termos coletivos, todas as doutrinas particulares ao foro íntimo. Alguns querem fazer da religião uma negação da política. Eu digo para os meus amigos que confundem fé religiosa e caminhada política: usem os valores religiosos para o bem coletivo, mas não se prendem a elas como vetores de exclusão. O que aconteceu recentemente no meu País, a França, é paradigmático do que eu queria expressar aqui, com palavras pobres e desajeitadas de forasteiro. A religião (às vezes até concretamente, através do financiamento pela Igreja dessas manifestações do "contra a igualdade de direitos para todos"), não pode ser a chave de entendimento do nosso viver comum, do nosso projeto coletivo. Ela pode nutri-lo, mas nunca substituí-lo. Por isso minha oração (!): que sejamos capazes, apesar das nossas diferenças de foro íntimo, de fé, de conversar e debater do nosso projeto comum, na indiferença absoluta das diferenças. Aí poderemos, sim, enfrentar a partir do pensar, os valores que queremos defender em comum, e construir juntos o projeto de amanhã.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Os Indiferentes (Antonio Gramsci)


Ofereço esse texto aos Assistentes Sociais - pelo nosso dia 15 de Maio!

Que nunca nos falte essa mola propulsora que é a Indignação! Que tenhamos sempre a capacidade de nos indignarmos diante das injustiças do mundo, mesmo quando toda a conjuntura nos apresentar um corredor de normalidades. Que a Luta pelos Direitos Sociais e Humanos seja sempre nossa prioridade em qualquer situação.


Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
Os Indiferentes - Antonio Gramsci - 11 de Fevereiro de 1917


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Descrição Valorativa do Sistema Capitalista.


Eduardo Galeano - O sistema/ 2
(Retirado do Livro dos Abraços)

Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto a humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto a cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer. A moral para fazer se chama realismo.
A lei da realidade e a lei do poder. Para que a realidade não seja irreal, dizem os que mandam, a moral deve ser imoral.
Celebração das bodas entre a palavra e o ato
Leio um artigo de um escritor de teatro, Arkadi Rajkin, publicado numa revista de Moscou. O poder burocrático, diz o autor, faz com que os atos, as palavras e os pensamentos jamais se encontrem: os atos ficam no local de trabalho, as palavras nas reuniões e os pensamentos no travesseiro.
Boa parte da força de Che Guevara, penso, essa misteriosa energia que vai muito alem de sua morte e de seus equívocos, vem de um fato muito simples: ele foi um raro exemplo dos que dizem o que pensam e fazem o que dizem.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Minha Homenagem as lutas Indigenas


Celebração das contradições/2 - Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

Desamarrar as vozes, dessonhar os sonhos: escrevo querendo revelar o real maravilhoso, e descubro o real maravilhoso no exato centro do real horroroso da América.
Nestas terras, a cabeça do deus Elegguá leva a morte na nuca e a vida na cara.
Cada promessa é uma ameaça; cada perda, um encontro. 
Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. 
Os sonhos anunciam outra realidade possível e os delírios, outra razão.
Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos.
A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia.
Nessa fé, fugitiva, eu creio. Para mim, é a única fé digna de confiança,
porque é parecida com o bicho humano, fodido mas sagrado, e à louca aventura de
viver no mundo.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Ensaios - Sobre a Política de Redução das taxas de Juros.


*Texto construído coletivamente com base em documentos e textos retirados da internet. Alunos da turma do curso de Formação para Educadores Sociais 2013.
Alinne Jamille, Bruna Novaes, Lúcio Jorge, Kelly Fortes, Paula Menezes e Val Fernandes.

ANALISE DE CONJUNTURA: Economia Nacional
Sobre a Política de Redução das taxas de Juros

O que é Inflação:
Em economia, inflação é a queda do valor de mercado ou poder de compra do dinheiro. Porém, é popularmente usada para se referir ao aumento geral dos preços. Inflação é o oposto de deflação. Índices de preços dentro de uma faixa entre 2 a 4,5% ao ano é uma situação chamada de estabilidade de preços. Inflação "zero" não é o que se deseja, pois pode estar denunciando a ocorrência de uma estagnação da economia, momento em que a renda e, consequentemente, a demanda, estão muito baixas, significando alto desemprego e crise.

O que é Juro:
Para entender a taxa básica de juros, é preciso primeiro saber o que é o juro. O dicionário Houaiss o define como "quantia que remunera um credor pelo uso de seu dinheiro por parte de um devedor durante um período determinado, ger. uma percentagem sobre o que foi emprestado; soma cobrada de outrem, pelo seu uso, por quem empresta o dinheiro". Em linguagem mais simples, Carlos Antonio Luque, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), dá um exemplo de como isso funciona: "Se eu tiver à disposição uma maçã e se alguém quiser tomá-la emprestada, eu vou exigir que, no futuro, essa pessoa me devolva a maçã e mais um pedaço. Esse pedaço extra é o que representa os juros".
No Brasil, o governo federal emite títulos públicos e, por meio da venda deles, toma empréstimos para financiar a dívida pública no país e outras atividades como educação, saúde e infraestrutura. Quem compra esses títulos aplica seu dinheiro para, em troca, receber uma contrapartida: os juros. Mas quem define isso? "O Banco Central, que administra os leilões de títulos do governo, define uma remuneração sobre eles, que é a taxa básica de juros", explica o professor. Dentro desse órgão, existe outro chamado Comitê de Política Monetária, o Copom. Ele foi criado em 1996 e sua função é, como diz o próprio nome, definir as diretrizes da política monetária do país e a taxa básica de juros. Periodicamente, o Copom divulga a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), que é a média de juros que o governo brasileiro paga pelos empréstimos tomados de bancos. É a Selic que define a taxa básica de juros no Brasil, pois é com base nela que os bancos realizam suas operações, influenciando as taxas de juros de toda a economia.
Aumentar ou reduzir esse imposto pode trazer diferentes implicações à economia de um país. "Quando o Banco Central aumenta a taxa de juros, ele está nos dando a seguinte orientação: 'Não consumam hoje os bens, peguem seu dinheiro e apliquem no mercado financeiro, pois assim vocês poderão consumir mais no futuro'. Quanto ele a reduz, diz o contrário, que é mais conveniente comprar os bens hoje e não aguardar o futuro para obtê-los", diz Carlos Antonio Luque. Ou seja, o aumento na taxa básica de juros atrai mais investimentos em títulos públicos e a quantidade de dinheiro em circulação diminui. Com isso, as pessoas compram menos. A lei de mercado faz com que a queda na demanda baixe os preços dos produtos e serviços em oferta. Assim, consegue-se conter o avanço da inflação, mas o ritmo da economia desacelera. Porém, se a taxa for reduzida, acontece o inverso: os bancos diminuem os investimentos nos títulos do governo e passam a aumentar o crédito à população, o que eleva a quantidade de dinheiro circulando e estimula o consumo. O crescimento na demanda de produtos e serviços aquece o setor produtivo e, consequentemente, a economia como um todo. Em compensação, faz os preços se elevarem e possibilita o avanço da inflação.
Analise
Em meados de 1999 o Brasil se somou ao então restrito grupo de países que na época adotavam como política anti-inflacionária as chamadas “metas de inflação”. Após a adoção do regime de câmbio flutuante, a implementação das metas foi uma forma de substituir a chamada “âncora cambial” – sistema que funcionou durante mais de quatro anos e que ajudou a fazer a transição do regime de alta inflação para outro de inflação sob controle.
A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC (Banco Central) para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Entretanto o aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior.
Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento - que ficam mais caros - a economia desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.
Os juros ou taxas possui forte interferência na economia, no custo do capital (tomada de crédito) das empresas e dos consumidores, estimulando ou desestimulando o consumo e os investimentos da cadeia produtiva.
O cenário econômico de 2006 e 2007 apresentou-se de acordo com o Bacen , uma redução dos juros em 16,5% e que permaneceu nesse nível até dezembro de 2007. De lá pra cá, muita água passou por debaixo da ponte, e muito pouco se fez para que houvesse um equilíbrio cambial.
Todavia, com as várias quebras estruturais ocorridas, 2011 mostrou uma economia ainda com índices de juros consideravelmente autos. Contudo, no segundo semestre – agosto – os juros que até então era de 12,5%, reduziu para 7,5% até o final de dezembro de 2012.
O ano de 2012 foi um ano de adaptações, um ano difícil, onde os juros começaram a baixar, ocasionando um processo atrativo que impulsiona a procura de crédito (financiamentos em longo prazo, compras parceladas e outros). E em busca de melhores rendimentos os Bancos se abrem em busca de novos investimentos, financiando projetos, produtos e novos investidores.
O crescimento econômico é formado pelo tripé da política monetária (taxa de juros), política fiscal (superávit primário) e taxa de câmbio, com vistas ao alcançe de uma determinada meta de inflação. Acontece que cada uma dessas variáveis interfere na outra de forma antagônica. Por exemplo, a redução da taxa de juros pode gerar aumento de inflação, porque põe em circulação um montante maior de moeda, que antes estavam aplicados em títulos em função do interesse pelos juros pagos.
Esse aumento de moeda circulante gera aumento de consumo. Até certo ponto isso estimula a economia, o que é benéfico em um momento onde o próprio Planalto já reconhece a previsão de crescimento do PIB de 2012 para pífios 1,6%. Porém, a partir de um limite, o aumento da demanda acima da oferta de produtos leva ao aumento de preços: a inflação de demanda. O problema, então, é o limite em que o remédio passa a ser veneno. E quem define isso é o Banco Central, mediante as reuniões do Copom.
No início de março deste ano de 2013 o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no ano de 2012 cresceu 0,9 % em relação ao ano precedente, constituindo um total de 4,4 trilhões de reais, este resultado foi um dos mais agravantes, desde 2009, quando a economia brasileira sofreu uma compressão de 0,33%, devido ao abalo ocasionado pela crise econômica e financeira mundial.
No Dia 12/03/2013 Dima afirmou que o PIB vai crescer para melhorar a vida do Brasileiro e para isso se concretizar de acordo com a mesma, algumas medidas já foram tomadas: diminuição das taxas de juros e redução de impostos.  Nesse sentido, alguns estudos demonstram que os países chamados emergentes continuam crescendo nos últimos três anos, contrapondo os países centrais que continuam sofrendo com a estagnação econômica.
Apesar do crescimento dos países emergentes, a dinâmica permanece sendo ditadas pelas potências imperialistas, e é certo que uma hora ou outra essa crise mundial acabará afetando, ou melhor dizendo já está afetando desenvolvimento do restante do mundo.
Cotidianamente escutamos falar a respeito do crescimento do PIB brasileiro. No entanto, uma dúvida paira no ar: Esse crescimento está contribuindo para a melhoria de vida da população brasileira? De que maneira o mesmo vêm sendo aplicado? È revestido para a elaboração de serviços sociais, políticas públicas de qualidade, educação, saúde, etc?
Quem se beneficia com a maior “fatia do bolo”? O orçamento aprovado pelo Senado deixa um rastro. Segundo a Auditoria da Dívida, para 2013, o Orçamento da União é de R$ 2,276 trilhões. A maior parte do orçamento vai para gastos com despesas obrigatórias, como amortização, pagamento de juros da dívida (R$ 900 bilhões). Podemos concluir de que maior parte de tudo o que será produzido no país vai para a especulação internacional. Enquanto isso o governo promete aplicar o equivalente a 7% do PIB até 2015 em investimento direto em educação. De 2015 até 2020, o percentual crescerá para 10%.
Enquanto isso o Brasileiro dorme!!!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Um Filósofo Democrático - Carlos Nelson Coutinho - Outubro 1998

Compartilho com vocês, amigos leitores, uma homenagem de Carlos Nelson Coutinho a Leandro Konder, um escrito belíssimos e cheio de reflexões teóricas que nos possibilitam o exercício de um posicionamento reflexivo. Não retirei nada de seu escrito, esta na integral, apenas sinalizei os pontos que para mim serviram de reflexão.

Carlos Nelson Coutinho - Outubro 1998. 

Gostaria de começar elogiando a iniciativa da comissão que organizou esta "Jornada Leandro Konder", destacando a participação nesse empreendimento da Profª. Maria Orlanda Pinassi, que acabou de nos fazer uma apresentação tão emocionada. É extremamente importante que estejamos começando a discutir coletivamente, nos quadros da universidade, a obra de Leandro Konder. Essa obra constitui, sem dúvida, um dos capítulos mais significativos da história do marxismo no Brasil; e o marxismo, por sua vez, constitui um capítulo decisivo da história da cultura brasileira no século XX.
Também gostaria de começar lembrando que, para mim, é muito difícil ser objetivo em relação a Leandro, à sua personalidade e à sua produção teórica. Iniciamos nossa colaboração intelectual há muitos anos, desde 1962; e, de lá para cá, fomos nos tornando cada vez mais, além de estreitos colaboradores, amigos íntimos e fraternos. Por isso, tenho sempre a impressão de que, quando elogio Leandro, também estou me elogiando, ou que, quando o criticam, também estou sendo criticado. Tentarei, porém, ser o mais objetivo possível, pois acredito que, em princípio, a proximidade com o objeto nem sempre nos impede de captar sua grandeza. 
1. 
Dois eixos importantes articulam a vida e a obra de Leandro, se é que se pode resumir uma obra e uma vida tão ricas em apenas dois eixos. Estes seriam a coerência e a  autonomia (ou independência) intelectual. Trata-se, certamente, de duas coisas estreitamente articuladas. Sem autonomia, a coerência leva muitas vezes ao dogmatismo, ao fechamento diante do novo, da riqueza sempre renovada do real; lembro que o Barão de Itararé, que é objeto de um belo livro de Leandro, dizia que só muda de idéias quem tem idéias. Em Leandro, a coerência se articula organicamente com a autonomia intelectual; por isso, sua inegável coerência teórica e ético-política não se converte em teimosia subjetiva, mas sim numa rica e dialética relação com a objetividade, que é mutável e plural, mas que também apresenta linhas de continuidade. Por outro lado, a autonomia sem coerência - que é, de resto, uma falsa autonomia - pode levar, no terreno teórico, ao ecletismo, à adesão irrefletida às mais efêmeras modas culturais; e, no terreno político, ao oportunismo, ao transformismo, à tentativa de estar sempre de acordo com a corrente dominante. Leandro soube evitar estas duas tentações, o ecletismo e o oportunismo, às quais sucumbiram tantos importantes intelectuais brasileiros da sua geração - e não só dela. E o fez precisamente porque soube articular, na sua vida e na sua obra, coerência e autonomia. E, já que estou falando de coerência, gostaria de chamar a atenção para algo que me parece fundamental: é impossível examinar a produção teórica de Leandro - uma produção que se iniciou há cerca de 40 anos - sem se dar conta de que ela está estreitamente articulada com suas escolhas ético-políticas. Ele não é um intelectual acadêmico que, de vez em quando, assina um manifesto ou toma posição em face de um problema político posto na ordem do dia. Como marxista, Leandro concebe sua atividade intelectual como um modo específico, entre outros modos possíveis, de atuar sobre o real, de contribuir para sua transformação. Não se trata de um intelectual que tem "opiniões políticas", mas de alguém que, a partir de uma coerente visão de mundo, de uma decisão muito clara de mudar o mundo, resolveu colaborar com esta ação de mudança através daquilo que sabe fazer melhor, ou seja, lidar com a teoria. Não é que Leandro tenha se recusado, em muitos momentos concretos, a pixar paredes, a distribuir panfletos na rua, a fazer agitação, ou seja, a "cumprir tarefas"; mas foi certamente tornando-se intelectual que ele julgou ser capaz de contribuir do modo mais adequado, em função de seu caráter e de seus talentos, não só para interpretar o mundo, mas também - como diria o velho Marx - para transformá-lo.
Leandro se tornou comunista nos longínquos anos 50, quando muitos de vocês certamente nem eram nascidos, e conserva-se comunista até hoje. Também neste terreno soube combinar coerência com autonomia: sem abandonar sua opção comunista, radicalmente anticapitalista, foi capaz de reformular posições, de atualizá-las, de fazê-las aderir à mobilidade do real. Neste particular, haveria muita coisa a dizer e a lembrar, desde as difíceis lutas que ele travou no interior do PCB (a condenação pública da intervenção do Pacto de Varsóvia na Tchecoslováquia, em 1968; a defesa radical da democracia como valor universal contra as hesitações da direção partidária, no início dos anos 80, etc., etc.) até a sofrida decisão de sair deste Partido e, mais tarde, de ingressar no PT.
Mas vou recordar apenas um pequeno exemplo pessoal. Leandro é filho de um importante dirigente comunista brasileiro, Valério Konder, por quem ele sempre teve uma grande admiração e respeito. Mas, desde o início de sua militância comunista, suas posições iam freqüentemente de encontro às do seu pai - e Leandro jamais hesitou em tomá-las quando as julgou corretas. Em 1965, dois intelectuais dissidentes soviéticos, Siniavski e Daniel, se bem lembro dos nomes, foram condenados na União Soviética. Leandro assinou um manifesto de intelectuais contra essa condenação. Eu estava viajando, não pude assiná-lo. Voltando ao Rio, encontrei-me com Dr. Valério e ele, julgando que eu não assinara o manifesto por dele discordar, foi logo me dizendo: "Meu filho, seu amigo é um irresponsável: assinou um documento contra o Comitê Central do PCUS. E quem é ele para ir de encontro ao PCUS?". Como muitos de sua geração, Dr. Valério era um "patriota soviético": confundia a defesa do comunismo com o apoio irrestrito à União Soviética. Sem deixar de admirá-lo e de respeitá-lo (e Dr. Valério era realmente uma pessoa admirável e respeitável), Leandro nunca se submeteu às suas opiniões pró-soviéticas.
Além de aderir muito cedo ao comunismo como escolha política, Leandro também se tornou marxista: e o marxismo foi o paradigma teórico que orientou e orienta até hoje sua produção teórica. Ele não sucumbiu às tentações da chamada "pós-modernidade", que levaram muitos dos intelectuais de nossa geração não só a abandonar o marxismo, mas até a se tornarem, em muitos casos, raivosamente antimarxistas. O marxismo, para Leandro, não foi uma moda passageira: foi uma complexa e sólida opção teórica, cimentada num profundo processo de aprendizado. Tanto é assim que ele continua a ser marxista, um marxista de profundo espírito crítico, é verdade, mas - precisamente por isso! - marxista. Como ele não aprendeu marxismo nem nos pífios manuais da extinta Academia de Ciências da URSS nem nos folhetos de Mao Tsé-tung, mas sim lendo Marx e Engels, lendo Lukács e Gramsci, lendo a Escola de Frankfurt, etc., Leandro pôde enfrentar com serenidade teórica e coerência política a chamada "crise do marxismo e do comunismo". Ele sabe muito bem que o que entrou em crise não foi o marxismo, nem o comunismo como proposta de emancipação humana, mas sim determinadas formas histórico-concretas assumidas pelo comunismo e pelo marxismo nesse contraditório e tumultuado século XX. 
2. 
As primeiras produções teóricas de Leandro Konder vieram à luz no início dos anos 60. Dentre elas, as mais significativas foram publicadas, entre 1960 e 1963, na revista Estudos Sociais, uma revista teórica do PCB, dirigida então, entre outros, pelo meu querido amigo Armênio Guedes, aqui presente (1). Leandro publicou nesta revista cinco ensaios que chamaram a atenção de muita gente, mas, em particular, de um jovem baiano, que na época não tinha nem 20 anos, e que, acreditem, foi convertido neste senhor que agora lhes fala. Pois bem, nestes ensaios, Leandro tratava de Rousseau e de Sartre, de Fernando Pessoa e da estética marxista, da necessidade de um diálogo entre marxistas e cristãos. Os temas não eram casuais: é fácil perceber que estes ensaios juvenis de Leandro já definem de certo modo as escolhas temáticas que ele iria desenvolver ao longo de sua atividade intelectual sucessiva, nos quase quarenta anos que nos separam do início dos anos 60.
O ensaios sobre Sartre, Rousseau e Fernando Pessoa antecipavam um dos eixos da produção teórica de Leandro, ou seja, a abordagem monográfica de alguns importantes pensadores (como Hegel, Fourier, Lukács e Benjamin) e também de significativos artistas (como Kafka e Brecht). O texto sobre a estética marxista - transcrição de uma conferência pronunciada no Iseb, na qual, de resto, podemos encontrar uma das primeiras menções a Gramsci feitas no Brasil - antecipa, por sua vez, outra linha da atividade de Leandro, ou seja, a reflexão sobre a teoria marxista, sobre a filosofia e a estética marxistas, uma linha investigativa que vai de seus primeiros livros, Marxismo e Alienação e Os marxistas e a arte, até o recente O futuro da filosofia da práxis e a pesquisa sobre o conceito de ideologia, que ele está atualmente desenvolvendo. Finalmente, o ensaio que discute e propõe o diálogo entre marxistas e cristãos (que, na época, com meu sectarismo juvenil, eu achei até, digamos, excessivamente tolerante com os cristãos) indica um traço marcante da ação teórica e política de Leandro, que iria em seguida se acentuar cada vez mais: um profundo espírito de tolerância, a abertura para o diverso, a permanente preocupação em manter abertas as condições para um fecundo diálogo entre o marxismo e as demais correntes de pensamento, em particular o cristianismo. Uma atitude tolerante que não se manifesta apenas no terreno da batalha das idéias, mas que é um traço essencial da personalidade de Leandro: não é casual que ele tenha hoje muitos amigos cristãos, pelo menos em tão grande quantidade como tem amigos marxistas. E tampouco me parece casual que o saudoso José Guilherme Merquior, talvez o mais brilhante pensador liberal brasileiro, tenha dedicado a Leandro o seu livro de crítica ao "marxismo ocidental" (2). 
3. 
Para avaliar melhor o papel de Leandro Konder na história da cultura brasileira, seria interessante recordar o que significou, sobretudo para nosso marxismo, esse início dos anos 60. O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, ocorrido em 1956, quando Kruschev denuncia os crimes de Stalin, teve repercussões muito fortes no Brasil, em particular no Partido Comunista Brasileiro, que então ainda detinha, praticamente, o monopólio da difusão do marxismo entre nós. Entre outras consequências, o marxismo brasileiro começou então a se abrir, ainda que timidamente, para a recepção de autores até este momento tidos como "heterodoxos", ou mesmo como "renegados" e "revisionistas".
Até então, as fontes para o estudo do marxismo no Brasil eram os manuais publicados em série pela Academia de Ciências da hoje extinta União Soviética. Que Leandro tenha sempre se recusado a considerar tais "manuais" como fonte autorizada de marxismo foi algo que pude atestar desde nossos primeiros encontros. Conto-lhes um fato, revelador não só da autonomia intelectual do Leandro, mas também do seu apurado senso de humor. Quando eu ainda morava na Bahia, fui visitar o Leandro numa de minhas idas ao Rio, aí por volta de 1962; em sua mesa de trabalho, estava um enorme livro verde, recém-publicado pelo Editorial Vitória, a editora do PCB, cujo título era Fundamentos do marxismo-leninismo; ri muito ao ver que Leandro havia escrito na capa do livro um enorme A, transformando assim o título do besteirol em Afundamentos do marxismo-leninismo. Diante do meu riso, ele ainda comentou: "Veja, estes manuais são sempre escritos por muita gente, mas não podemos dizer que sejam escritos ''por várias mãos'', e sim ''por várias patas''.
O fato é que, na esteira do XX Congresso e da conseqüente renovação do PCB, teve lugar entre nós uma abertura do marxismo, uma quebra do monopólio quase exclusivo dos manuais soviéticos de "marxismo-leninismo". É muito importante registrar que Leandro foi um dos campeões desta abertura. Foi sobretudo graças a ele que se tomou conhecimento no Brasil de autores como Georg Lukács, Antonio Gramsci, Lucien Goldmann e tantos outros, que ele diligentemente sugeria a Ênio Silveira e a Moacyr Félix para publicação pela Editora Civilização Brasileira e, mais tarde, também pela Revista Civilização Brasileira. Em muitos casos, Leandro assumiu diretamente a tarefa de traduzir e editar tais autores, como foi o caso da coletânea Ensaios sobre literatura, de Lukács, publicada em 1965, que teve um extraordinário papel na renovação da política cultural e das concepções estéticas da esquerda, um terreno que ocupava intensamente, na época, o debate intelectual em nosso País. Leandro prefaciou também, junto comigo, a primeira edição brasileira de Gramsci, o volume temático Concepção dialética da história. Penso que José Paulo Netto irá explicitar mais amplamente, em sua intervenção, o papel decisivo que Leandro desempenhou na batalha de idéias travada pela esquerda ao longo dos difíceis anos 60.
Mas, ao lado desta sua atividade como editor e como formulador no terreno da política cultural, gostaria de voltar à atividade de Leandro como ensaísta. Depois dos seus ensaios em Estudos Sociais, já lembrados, Leandro publicou em 1965 um livro chamado Marxismo e alienação, seguido, em 1967, por um outro intitulado Os marxistas e arte. Não diria que, com tais livros, Leandro iniciou o estudo e a difusão do marxismo no Brasil. Já dispunhamos, na época, de importantes produções marxistas de autores nacionais, mas que se concentravam sobretudo no terreno da historiografia (basta lembrar aqui a obra de Caio Prado Júnior e de Nélson Werneck Sodré) e, em menor medida, no campo da crítica literária (cabe mencionar as produções de Astrojildo Pereira e do próprio Sodré).
Mas, ao contrário, até o início dos anos 60, era paupérrimo o tratamento propriamente teórico-filosófico do marxismo por autores brasileiros. Nos anos 40, com nova edição no início dos anos 60, Leôncio Basbaum publicara uma Sociologia do materialismo, que vocês certamente não leram e será muito bom que não leiam nunca: é um amontoado de sandices. Vocês também não devem ter lido dois livros de filosofia publicados por Caio Prado Júnior, nos anos 50, intitulados Dialética do conhecimento e Notas introdutórias à lógica dialética, felizmente, creio e espero, não mais reeditados: é penoso ver como o brilhante historiador paulista enfrenta temas com os quais tem escassa familiaridade. É certamente de lamentar que Caio Prado Jr. tenha abandonado sua obra historiográfica sobre a Formação do Brasil contemporâneo (do qual só publicou o volume sobre a Colônia) para dedicar-se a temas que lhe eram fundamentalmente estranhos. E, se lembrarmos um livro do médico paulista Álvaro de Faria, Introdução ao estudo do formalismo e das contradições, publicado em 1960, torna-se ainda mais evidente o quadro de completa indigência do marxismo brasileiro da época no terreno da filosofia.
Neste quadro, os dois livros de Leandro por mim mencionados são como um raio em dia de céu claro. Junto com Origens da dialética do trabalho, publicado por José Arthur Gianotti em 1966, estes dois livros põem o marxismo teórico brasileiro em outro nível, entre outras coisas porque trazem para discussão as idéias dos mais importantes representantes do chamado "marxismo ocidental", como Lukács, Gramsci, Goldmann, Sartre, etc. Se vocês lerem, por exemplo, Marxismo e alienação, verão o correto tratamento de um tema filosófico decisivo, até então completamente ignorado pelos nossos marxistas; se lerem Os marxistas e a arte, tomarão conhecimento das idéias estéticas de uma plêiade de notáveis autores marxistas (Caudwell, Benjamin, Della Volpe, etc., etc.), então inteiramente desconhecidos no Brasil. Infelizmente, estes livros estão esgotados e não foram nunca reeditados (Leandro parece ser contra a reedição de seus livros!), o que dificulta a percepção de sua radical novidade no quadro do marxismo teórico brasileiro. Eles tiveram um importante papel na batalha de idéias em que os intelectuais de esquerda estávamos então empenhados. E não foram poucos os que se aproximaram do marxismo através desses livros de Leandro. Com eles, estavam definitivamente "afundados" entre nós os pífios manuais da Academia soviética.
Hoje pode até parecer banal que um autor marxista tenha abordado o tema da alienação ou que tenha posto em circulação entre nós autores como Lukács, Gramsci ou Benjamin. Decerto, quase nenhum marxista brasileiro ignora atualmente estes temas ou estes autores. Mas, em meados dos anos 60, quando Leandro publicou seus livros, tratava-se certamente de uma radical inovação. E, se tais temas ou autores se tornaram hoje banais no Brasil, isso se deve em grande parte à produção intelectual de Leandro nos anos 60. Neste sentido, não hesitaria em dizer que essa produção é um radical ponto de inflexão na história do marxismo brasileiro. A partir dos primeiros livros de Leandro, passou-se a cobrar e a exigir da reflexão marxista entre nós um outro nível. Evidentemente, não posso aqui, no pequeno espaço de tempo de que disponho, discutir mais profundamente as indiscutíveis grandezas e também os eventuais limites da produção teórica de Leandro. Espero que essa discussão se inicie nas outras intervenções e nos debates que se seguirão. Gostaria apenas de ressaltar que, sem uma análise dessa produção teórica, faltará um capítulo essencial na história, não só do marxismo brasileiro, mas também do pensamento social e estético em nosso País. 
4. 
Mas eu gostaria também de recordar um aspecto da produção cultural e da ação política de Leandro Konder que nem sempre é devidamente ressaltado, ou seja, sua atividade como jornalista, à qual dedicou, desde jovem, uma parte significativa de sua atividade intelectual. Com o codinome de Pedro Severino, no início dos anos 60, Leandro manteve uma coluna satírica de elevado nível no semanário comunista Novos Rumos; lembro-me bem das risadas que dava ao ver que Pedro Severino, ironizando as primeiras incursões do misticismo orientalista no Brasil, insistia em chamar de zen-bundistas os que se diziam interessados nas religiões orientais. E quem não continua a rir hoje quando lê, em sua coluna quinzenal em O Globo, as peripécias e reflexões de Alberto, o simpático sapateiro anarquista por trás do qual Leandro, como Drummond com seu elefante, costuma freqüentemente se disfarçar? Quando forem publicadas suas obras completas, certamente não serão poucos os volumes que recolherão esta vasta e significativa produção jornalística de Leandro. Mas, além dessa suas colaborações regulares em Novos Rumos e em O Globo, separadas por quase quarenta anos, Leandro também desempenhou outras atividades jornalísticas. Foi, por exemplo, o eficiente e pluralista editor cultural do semanário Folha da Semana, que o PCB fez publicar no Rio entre 1965 e 1966, já depois do golpe de 64, mas ainda antes do AI-5; ele soube reunir então, na página cultural deste semanário, intelectuais de diversa origem e posição teórica, facilitando a interlocução dos comunistas com os intelectuais.
Mais tarde, na década de 70, Leandro (com os pseudônimos de F. Teixeira e de Lair Cordeiro) foi um ativo articulista da Voz Operária no exílio, ou seja, do pequeno jornal do Comitê Central do PCB, que era então feito em Paris e impresso em Roma, para depois ser mandado clandestinamente para o Brasil. Eu e Armênio, que também trabalhávamos na Voz(Armênio era nosso democrático editor-chefe!), lembramos bem o seguinte: quando estávamos para fechar o pequeno jornal e alguém não aparecia para trazer seu artigo previamente encomendado (o que acontecia muitas vezes!), Armênio dizia: "Leandro, escreva aí 25 linhas". E Leandro imediatamente sentava e escrevia, fossem 25 ou 55 linhas, qualquer que fosse o assunto proposto, um tema político, cultural ou até esportivo. O artigo saía do tamanho certo, quase sem emendas, sempre preciso e inteligente. Eu nunca conseguia fazer isso, ficava até meio deprimido, mas Armênio, como bom e solidário baiano, me consolava: "Carlito, é essa a diferença entre a cultura teuto-carioca e nossa complicada cultura baiana". Todos os jornalistas profissionais que conviveram com Leandro (e lembro aqui do nosso querido amigo comum Luiz Mário Gazzaneo) são unânimes em reconhecer essa extraordinária capacidade jornalística de Leandro. Uma capacidade que, também nesse caso, foi sempre posta a serviço de uma batalha política e cultural. 
5. 
Talvez seja o momento de tentar propor um balanço da atividade intelectual e política de Leandro Konder, um balanço provisório, é claro, porque ele tem ainda muito a nos dizer. Sempre que penso na atividade de Leandro, como escritor, como jornalista, como militante político, como professor, recordo uma observação de Gramsci, um autor que nos é, a mim e a Leandro, muito caro. Gramsci diz o seguinte: "Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas ''originais''; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, ''socializá-las'' por assim dizer; e, portanto, transformá-las em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato ''filosófico'' bem mais importante e ''original'' do que a descoberta, por parte de um ''gênio'' filosófico, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais" (3)Se Gramsci está certo - e eu creio que esteja -, foram muito poucos os intelectuais brasileiros que contribuíram tanto como Leandro para a criação de uma "nova cultura" entre nós. Com seu extraordinário talento, ele certamente poderia ter se dedicado a descobrir "novas verdades" que se restringissem a "pequenos grupos intelectuais". Optou, ao contrário, por "socializar verdades já descobertas", por transformá-las em patrimônio de muitos, em base de ações vitais efetivamente transformadoras do real. Fez isso de modo sistemático em sua produção teórica, em sua atividade jornalística, em sua militância política, em sua atuação mais recente como professor e como mestre.
Cabe aqui uma breve palavra sobre Leandro como professor, breve porque acredito que a amiga Margarida Neves vai falar mais detidamente sobre esse aspecto da atividade de Leandro, já que os dois trabalham juntos na mesma Universidade. Leandro só se tornou professor regular tardiamente, no início dos anos 80, depois de voltar do exílio, quando então passou a ser possível a um intelectual comunista ingressar como professor regular na Universidade, inclusive numa universidade formalmente católica. Mas, mesmo antes disso, Leandro já era um professor e um mestre: sou testemunha de que, até nas épocas mais difíceis da ditadura, ainda que correndo riscos, Leandro nunca recusava o convite de qualquer pequeno grupo de estudantes, de sindicalistas, de profissionais liberais para fazer uma conferência ou dar uma aula sobre Lukács, sobre marxismo, sobre estética, sobre análise de conjuntura, etc. Isso fazia parte, dizia ele, de sua militância, de seu empenho em "socializar a verdade", em difundi-la entre um número cada vez maior de pessoas. Não está entre os menores crimes da ditadura ter mantido Leandro tantos anos fora da Universidade, o que decorria do fato de que não existia em nosso País liberdade de pensamento e de expressão do pensamento.
Por tudo isso, Leandro está entre os poucos intelectuais brasileiros que podem reivindicar o título gramsciano de "filósofo democrático". Definindo este conceito, diz Gramsci: "Compreende-se assim por que uma das maiores reivindicações das modernas camadas intelectuais foi a da chamada ''liberdade de pensamento e de expressão do pensamento (imprensa e associação)'', já que só onde existe essa condição política se realiza a relação de professor-discípulo no sentido mais geral [...]; e, na realidade, só assim se realiza um novo tipo de filósofo, que se pode chamar de ''filósofo democrático'', isto é, do filósofo consciente de que a sua personalidade não se limita à sua individualidade física, mas é uma relação social ativa de modificação do ambiente cultural" (4).
Quem diz democracia diz também generosidade. E o traço caracterial de Leandro que certamente mais me impressionou, ao longo destes quase quarenta anos de íntima convivência e de amizade fraterna, foi sua enorme generosidade. Uma generosidade que se manifesta, antes de mais nada, nesse seu empenho em difundir o saber, em partilhar com muitos o que ele sabe (e ele sabe muito!), seja em sua produção teórica, seja em sua atividade como professor e como jornalista. Mas que também se manifesta como atitude vital em face dos outros. Quanto a isso, gostaria de dar um exemplo pessoal: conheci Leandro do seguinte modo: tínhamos um amigo comum, eu havia lido os cinco ensaios dele a que me referi antes, publicados em Estudos Sociais, e, por meu turno, havia publicado na época, com 17-18 anos, numa revista da Faculdade de Direito da Bahia, uns textos meio bizarros, infanto-juvenis. Mas, intrépido e corajoso, mandei para Leandro, através deste amigo, os tais textos, solicitando sua opinião. Ele me escreveu uma carta extremamente generosa, muito cuidadosa, advertiu-me sobre o uso de autores heréticos, mas me estimulou muito e logo propôs que nos encontrássemos para discutir pessoalmente. Pouco depois vim ao Rio (acho que em março de 1962) e nos conhecemos pessoalmente. Sou quase oito anos mais moço que o Leandro, mas ele nunca me tratou, desde este primeiro encontro, quando eu tinha apenas 18 anos, como um jovenzinho baiano que ele devia "tutorar". Ao contrário, sempre me tratou como um igual, como um companheiro de atividade intelectual; abriu inúmeras portas no Rio para que eu publicasse na então "metrópole", inicialmente em Estudos Sociais e depois na Revista Civilização Brasileira, e indicou-me a Ênio Silveira para traduzir a obra de Gramsci, etc. Enfim, deu-me espaço para crescer de modo autônomo. 
6. 
Eu queria concluir dizendo da minha enorme satisfação em participar desta homenagem a Leandro, um produtor de cultura, um extraordinário ser humano, um mestre. Tentei ser objetivo, mas - como vocês puderam observar - isso nem sempre é fácil para mim. Mas, se o preço da objetividade for a frieza e a distância, renuncio facilmente a ela para falar de Leandro. Estou seguro de que ele é um dos poucos intelectuais brasileiros a quem cabe o qualificativo de mestre, de "filósofo democrático". Mas o que sobretudo me faz feliz é tê-lo como amigo fraterno, como companheiro de vida, de combates intelectuais e de batalhas políticas. 
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Carlos Nelson Coutinho é professor titular de Teoria Política da UFRJ. 
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Notas
(1) L. Konder, "Sartre, suas contradições formais e seus méritos", Estudos Sociais, nº 9, outubro de 1960, p. 89-94; Id., "Algumas considerações sobre a fisionomia ideológica de Fernando Pessoa", ibid., nº 11, dezembro de 1961, p. 283-294; Id., "O Contrato social e o liberalismo burguês", ibid., nº 14, setembro de 1962, p. 175-182; Id., "Marxismo e cristianismo: pressupostos de um diálogo", ibid., nº 16, março de 1963, p. 332-340; Id., "Alguns problemas do realismo socialista", ibid., nº 17, junho de 1963, p. 46-60. 
(2) J. G. Merquior, O marxismo ocidental, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987. Lá podemos ler, na p. 3: "Para Leandro Konder, que não concordará com tudo...". 
(3) A. Gramsci, Cadernos do cárcere, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, vol. 1, 1999, p. 95-96. 
(4) Ibid., p. 400.




Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.