"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Resumo do Livro Nós dizemos NÃO - Eduardo Galeano.

Discurso de inauguração do Encontro Internacional de Arte, Ciência e Cultura pela Democracia no Chile. Em Julho de 1988, em plena ditadura do General Pinochet.

“Dizemos não ao elogio do dinheiro e da morte. Dizemos não a um sistema que põe preço nas coisas e nas pessoas, onde quem mais tem é quem mais vale; dizemos não a um que destina dois milhões de Dolores para as armas de guerra, enquanto mata, por minuto, 30 crianças, de fome ou doença curável. No Brasil de hoje, destinamos bilhões as pompas do Carnaval, do Futebol, da corrupção... a bomba de nêutrons, que salva as coisas e aniquila as pessoas, é um perfeito símbolo do nosso tempo. Para o sistema assassino que em objetivos militares as estrelas da noite, o ser humano não é nada mais do que um fator de produção e consumo e objeto de uso; o tempo não é outra coisa que um recurso econômico; e o planeta inteiro, uma fonte de renda que deve render até a última gota de seu caldo.  A pobreza é multiplicada para que a riqueza possa se manter. Nós dizemos Não a um sistema que nega comida e nega amor, que condena muitos a fome de comida e muitos à fome de abraços.
Dizemos não à mentira. A cultura dominante, que os grandes meios de comunicação irradiam em escala universal, nos convida a confundir o mundo com um supermercado ou uma pista de corrida, onde o próximo pode ser uma mercadoria ou um competidor, mas jamais um irmão, ou companheiro profissional na luta por um ideal comum, por esse pensamento é que dificilmente vemos continuidade nos programas e projetos de governo, estamos sempre querendo provar que fazemos mais e melhor.  Essa cultura mentirosa, que grotescamente especula com o amor humano para arrancar-lhe mais-valia, é na realidade a cultura do desvinculo: tem por deuses os ganhadores, os exitosos donos do dinheiro e do poder, e por heróis os rambos fardados que cuidam de suas costas aplicando a Doutrina da Segurança Nacional. Pelo que diz e elo que cala, a cultura dominante mente que a pobreza dos pobres não é um resultado da riqueza dos ricos, mas que é filha de ninguém, vinda no bojo de uma couve-flor ou da vontade de Deus, que fez os pobres preguiçosos e burros.
[...] E neste estado de coisas, nós dizemos não à neutralidade da palavra humana. Dizemos não aos que nos convidam a lavar as mãos perante as cotidianas crucificações que ocorrem ao nosso redor. À aborrecida fascinação de uma arte fria, indiferente, contempladora do espelho, preferimos uma arte quente, que celebra a aventura humana no mundo e nela participa, uma arte irremediavelmente apaixonada e briguenta.(1988)

Julgamento e condenação do poderoso cavalheiro doutor dinheiro

“Todos pagam o que uns poucos gastam. Para poucos, a festa. Para todos os demais, a conta. Os lucros são privatizados, as bancarrotas são socializadas. O povo financia a repressão que o castiga e o esbanjamento que o atraiçoa.”
“através dos empréstimos, a tecnocracia impõe um modelo de desenvolvimento alheio às necessidades de cada país, que promove o consumo artificial e estimula um modo de vida importado, torra os recursos naturais, idolatra a moeda e despreza as pessoas e a terra.”

A obra de um fotografo brasileiro: Salgado em 17 imagens

“Na verdade, é difícil olhar estas figuras impunemente. Não imagino que alguém possa sacudir os ombros, virar a cabeça e afastar-se assoviando, cego e alheio, como se não tivesse visto nada.”
E fico a perguntar, quais as fotografias que vemos diariamente perante nossos olhos? O que nos mostra nossas esquina? O que vemos da janela do carro? do quarto? do ônibus? (Acréscimos meus).
“No chamado Terceiro Mundo, morrer de bala é ‘natural’. Do ponto de vista dos grandes meios de comunicação que incomunicam à humanidade, o Terceiro Mundo está habitado por gente de terceira classe, que só se distingue dos animais porque caminha sobre duas pernas. Seus problemas pertencem à natureza, não à história: a fome, a peste, a violência, integram a ordem natural das coisas.”

Cuba, trinta nãos depois: uma obra deste mundo.

Os visitantes honesto descobrem, na ilha, uma realidade alucinante e contraditória e muito terrenal. A revolução, feita de barro humano, não é obra de deuses infalíveis, nem de malignos satanases: ela é deste mundo e, por ser deste mundo, é também do mundo que virá.
A realidade desconcerta os que esperam encontrar um grande campo de concentração rodeado de palmeiras, um povo castigado, condenado ao medo eterno: é preciso muito preconceito para não sucumbir ao abraço deste povo carinhoso e reclamão, que se queixa e ri a viva voz e contagia de dignidade e frescor quem se aproximar. Qualquer um que não tenha teias de aranha nos olhos pode ver que as pessoas se expressam a todo vapor, e que é impossível dar um passo sem tropeçar em algum hospital ou alguma escola.
 Mas não se desconcertam menos os que comparecem a um encontro anunciado reino da perfeita felicidade: em cuba encontram lojas vazias, telefones impossíveis, transportes péssimos, uma imprensa que parece as vezes de outro planeta e uma burocracia que para cada solução tem um problema. A burocracia está empenhada em transformar a vida cotidiana das pessoas numa subida ao Gólgota.
[...] A burocracia, inimiga da esperança, desprestigia o socialismo. Sua assombrosa capacidade de ineficiência e seu costume de dar ordens em lugar de explicações fazem a indireta propaganda do egoísmo como destino inevitável do homem. Se fosse pela burocracia, os Estados socialistas seriam cada vez mais Estados e menos socialistas, o que equivale a reconhecer que a condição humana não merece nada melhor que o reino capitalista da cobiça.
Mas a justiça social não tem razão para ser inimiga da liberdade, nem da eficácia, e o socialismo enfrenta este tremendo desafio no mundo de nosso tempo.


Nós dizemos Não de Eduardo Galeano é um livro pequeno e bastante denso, faz uma denúncia social de forma poética. Apesar de ser um livro datado de 1990, o que tenho em mãos, percebi sua escrita atual, claro muitas coisas mudaram, o que não quero dizer para melhor, os diversos problemas sociais descritos no livro, mudaram apenas de nome, mas sua essência continua a mesma. O Fino fruto do sistema capitalista. 
 Paula Menezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário