"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Fortalecimento do capitalismo e a fragilidade no mundo do trabalho

          Muitas coisas vieram pra ficar...o capitalismo tambem, juntamente com suas mazelas...
           As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, essas novas formas de organização da produção, trouxe aos trabalhadores do setor terciário condições material e psicologicamente precárias, bem como o desenvolvimento de várias atividades e a ampliação da jornada de trabalho.
Foi a partir dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho norteadas pela reestruturação produtiva, que se reproduziu novas formas de alienação da classe trabalhadora, seja ela de natureza física, psicológica ou social, como composta por um conjunto de reações fisiológicas que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo psico-físico-social.
A reestruturação produtiva é compreendida como sendo um fenômeno ligado à globalização, onde as empresas para obterem maior competitividade a nível global se reestruturaram, caracterizando-se por dois elementos: Inovação tecnológica[1] e Inovação organizacional[2]. A reestruturação produtiva veio com a chamada "Terceira Revolução Industrial" que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Ela se apresentou como oposição ao modelo Fordista-Taylorista de produção e começou a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 1970.
Segundo Pinto (2007) o modelo Fordista-Taylorista surgiu na empresa FORD a partir de 1913 e teve como base tecnológica a 2ª revolução industrial, que se caracteriza pelo uso da Eletricidade, aço, eletromecânica, motor a explosão, petróleo, petroquímica etc. O equilíbrio dessa articulação manteve-se ate meados dos anos 1970, quando sofreu o impacto de transformações de varias ordens, em especial a crise do petróleo. Favorecendo assim o advento do Toyotismo, foi acompanhado das seguintes fases: a introdução na indústria automobilística japonesa, da experiência do ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas; a necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores; a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban[3]; e a expansão desse mesmo método para as empresas subcontratadas e fornecedoras.
Segundo Alves e Antunes (2004), o mundo do trabalho atualmente tem recusado os trabalhadores herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializada, que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era toyotista. Sendo assim o que muda é a forma de implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo /fordismo, ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operaria de modo integral.
Ainda com de acordo com Alves e Antunes (2004), todos esses processos e mudanças no mundo do trabalho culminou, naquilo que denominam de, “alienação/estranhamento” que é ainda mais intensa nos estratos precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário, e precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade. Ainda concordando com Alves e Antunes são nos estratos mais penalizado pela precarização/exclusão do trabalho, que o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência e se manifestam hoje, intensamente, em tantas partes do mundo e, particularmente, na América Latina.
É sob a condição da separação absoluta do trabalho, que a alienação assume a forma de perda de sua própria unidade: trabalho e lazer, meios e fins, vida pública e vida privada, entre outras formas de disjunção dos elementos de unidade presentes na sociedade do trabalho. Expandem-se, desse modo, as formas de alienação dos que se encontram à margem do processo de trabalho.
Contrariamente à interpretação que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o aprofundamento das contradições do capital.
Quanto mais o sistema tecnológico da automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende em direção a limites absolutos. Quando se pensa na enorme massa de trabalhadores desempregados, as formas de absolutização da alienação são diferenciadas. Variam da rejeição da vida social, do isolamento, da apatia e do silêncio (da maioria) até a violência e agressão diretas.
O relacionamento entre pessoas e organizações é considerado antagônico e conflitante. Acredita-se que os objetivos das organizações: lucro, produtividade, eficácia, redução de custos, entre outros, são incompatíveis com os objetivos dos trabalhadores que por sua vez almejam melhores salários, lazer, segurança no trabalho, desenvolvimento e progresso social.
Atualmente, a lógica empresarial encontra-se na era Antropocêntrica, onde toda a centralidade está no homem, na pessoa. As pessoas passam a compor o elemento básico do sucesso empresarial. Em vez de investirem diretamente só nos consumidores potenciais, na estrutura física, passam com essa lógica a investir em quem atende em quem cria etc., criando pessoas com visão estratégica, poder de negociação, espírito de liderança, proativo, que saiba trabalhar em equipe, mas à luz da crítica dialética, estes sujeitos nada mais são, que trabalhadores alienados em seu processo de trabalho.
Há quem faça severas críticas a esse modelo pós-moderno de administrar, uma vez que este não trabalha a igualdade, a coletividade, a repartição dos lucros, esse modelo escamoteia a realidade da exploração, agora de forma menos sentida, logo, menos sofrida. Segundo Seligmann (1994) é uma forma de controle sofisticado onde:
As instrumentações de dominação que se fazem através da desinformação, da utilização de sentimentos e da estimulação do orgulho pelo trabalho bem feito são algumas das técnicas adotadas pelo poder que recebem fortalecimento considerável da disciplinação, favorecendo a eficácia da mesma, preparando o terreno para garantir a aceitação das exigências disciplinares. Desta forma, assegura-se também que os “corpos dóceis”, de que nos fala Foucault, se tornem ainda mais dóceis. (1994: 97-98).
Atualmente o mundo do capital se encontra em crise e, nesse sentido, o terciário não mais se constitui em solução provisória para o desenvolvimento capitalista. Então, o problema que transparece é o de que, nesse momento de crise, em que variados processos e procedimentos de precarização do trabalho estão sendo postos em prática, os trabalhadores estão perdendo seus empregos, ganhando menos, perdendo saúde e tendo aumentadas as tensões no seu dia-a-dia sem as mínimas garantias de sua reprodução futura.
Com essas exemplificações pretendo agregar na pesquisa a tese que defende Antunes e Alves (2004) que não há o fim do trabalho e sim uma reorganização nesse mesmo mundo e consequentemente também a classe trabalhadora se organiza conforme se organiza o trabalho, sendo assim a classe trabalhadora hoje é compreendida pela totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho classe-que-vive-do-trabalho, despossuídos dos meios de produção.
Paula Menezes - Trecho retirado da Justificativa do Projeto para Mestrado.



[1]Base microeletrônica (chips). Exemplos: computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing; o desenho e produção industrial com auxílio de computadores, etc. (Coletânea diversas)
[2]Terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, os Círculo de Controle de Qualidade - CCQ, a qualidade total, etc. (Coletânea diversas)
[3]PINTO, G. Augusto (2009, p.79) Kanban um sistema de informações e transporte interno, com informação e quantidade necessária de peças e materiais encomendados por cada posto de trabalho.


Um comentário:

  1. ASSIM, O CAPITAL TÁ FALIDO. VIVE DO QUE PIOR EM SOCIEDADE HÁ DE SE EXPLORAR. DROGAS, ALCOOLICOS, BESTERAGEM TECNOLOGICA, PANOS LOUÇAS, CORRUPÇÃO, PRESOS, BANDIDOS, RELIGIÃO,ETC.
    ASSIM NOVAMENTE SE PERGUNTA ; TEMOS SAIDA?

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