"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ensaios sobre Alienação

Ensaios sobre Alienação
A palavra alienação vem do latim alienus, que veio a dar “alheio”, significando "o que pertence a um outro". No domínio do direito, a alienação designa o ato de transferência da posse ou do direito de propriedade de alguma coisa para outrem, seja por doação seja por venda. Na psiquiatria, a alienação era, até à algum tempo – há hoje tendência para abandonar o termo - sinônimo de doença mental grave, envolvendo a perda da noção quer da identidade pessoal quer da realidade. Segundo dicionário Ediouro, alienação – ação ou efeito de alienar-(se); cessão de bens ou direitos; enlevo, êxtase; perda da razão; desinteresse pelas questões políticas e sociais. No domínio estritamente filosófico, o tema da alienação é trazido para primeiro plano por Hegel e retomado, posteriormente, por Feuerbach, por Marx – cuja formulação é, sem dúvida, a mais conhecida – Para Marx, que analisou esse conceito básico, a alienação não é puramente teórica, manifesta-se na vida real, a partir da divisão do trabalho, quando o produto do trabalho deixa de pertencer a quem o produziu. Dessa forma temos alienação do trabalho conforme Marx, ao se confinar o operário à fabrica, retirando dele a posse do produto, é ele próprio que perde o centro de si mesmo, não escolhe o salário, o horário e nem tão pouco o ritmo do trabalho, somente o contrato de trabalho é livre, o resto inerente ao processo ainda é escravo mesmo.
 
Hoje em dia há a tendência para utilizar o termo nos mais variados domínios, dando-lhe o significado extremamente lato de todo o processo mediante o qual o homem deixa de ser autônomo, de ser dono de si mesmo, para se tornar propriedade (escravo) de um outro – algo ou alguém - que por ele decide acerca da sua vida. É precisamente nesse sentido que se fala na “alienação” provocada pela ideologia, pela droga, pelo materialismo, etc.
Para melhor explanar essa terminologia primeiramente vamos denominar e clarificar os quatro aspectos principais trazidos por Marx:

1.      O homem está alienado da natureza;
2.      Está alienado de si mesmo (de sua própria atividade);
3.       De seu “ser genérico” (de seu ser como membro da espécie humana)
4.      O homem está alienado do homem (dos outros homens)

O primeiro desses quatro aspectos “trabalho alienado” refere-se à relação do trabalhador com o produto do seu trabalho, sua relação com o exterior, os objetos da natureza. O segundo aspecto é a relação do trabalhador com o ato de produzir dentro do processo de trabalho, um processo de trabalho alheio, talvez ate a vontade do trabalhador, que não oferece satisfação em si e por si mesma. Marx chama o primeiro aspecto de “alienação da coisa” e o segundo, “auto-alienação”. O terceiro, porem, transforma o “o ser genérico” do homem, tanto a sua natureza como as suas faculdades espirituais especificas, num ser alheio a ele. Ele aliena o próprio corpo do homem em relação a si mesmo, como faz com a natureza exterior a sua existência espiritual, seu ser humano.

O quarto aspecto considera a relação dos homens com os outros homens. Como ressalta Marx sobre esta ultima:
 “uma conseqüência imediata do fato de que o homem está alienado do produto de seu trabalho, da atividade de toda a sua vida, de sua espécie, é alienação do homem em relação ao homem. Quando um homem se vê em face de si mesmo, ele se defronta com outro homem. O que se aplica à relação do homem com seu trabalho, com o produto de seu trabalho e consigo mesmo, também é válido para a relação do homem com outro homem, e com o trabalho de outro homem e o objeto de seu trabalho. Na realidade, a proposição de que a natureza da espécie do homem está alienada dele significa que um homem está alienado do outro homem, significa que todos eles estão alienados da essência humana.”

No trabalho e na produção a alienação é a mesma, a desfiguração do trabalhador em relação ao produto do seu trabalho dessa forma a máxima “A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas” Marx. No mundo vigente do capital e do trabalho o que não seria de certa forma alienação? Somos alienados no consumo, quando nos deixamos criar falsas necessidades, no pensamento quando não conseguimos refletir sobre as noticias da mídia, aceitando apenas as versões que nos são postas, no lazer, principalmente quando associamos este ao consumo. Enfim finalizo e que nos fique a reflexão.

“Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.”
(Fernando Pessoa)             

Referências:
  • Aranha,Maria Lucia de Arruda; Maria Helena Pires Martins - Filosofando:introdução a filosofia. 3.ed resvista - Sao Paulo: Moderna,2003Meszaros,István - Marx: A Teoria da Alienação - editores Zahar, 1981
  • Codo,Wanderley - O que é Alienação - Nova Cultura/Brasiliense,1986
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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Trabalho: Valor e des (valor)

Trabalho: Valor e des (valor)
Alguns ensaios sobre o tema.


A palavra trabalho deriva do verbo trabalhar, originário do vocábulo romântico tripaliare. Este, por sua vez, vem do latim tripalium, nome de um antigo e terrível instrumento de tortura, castigo, que se dava aos escravos e, historicamente, o trabalho foi considerado como uma atividade depreciável. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre. A escravidão foi considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural e mais adequada de relação laboral. A ética protestante vem atribuir um valor positivo ao trabalho, considerando-o não como punição mas como oferenda a Deus. A partir de meados do século XIX, servidão, em suas várias formas, fora extinta na maior parte dos países ocidentais, sendo substituída pelo trabalho assalariado, socialmente valorizado. Feitas essas considerações, poderíamos concluir que essa definição dá ao trabalho uma conotação dual, seu valor e desvalor.
Na sociedade contemporânea não há como negar a relação capital/trabalho. Os homens possuem necessidades sociais a satisfazer e, por meio do trabalho, buscam produzir e reproduzir suas vidas sociais. É quase impossível imaginar a vida sem o exercício constante de aperfeiçoamento do homem e suas extensões. Mais do que uma atividade cotidiana que proporciona sobrevivência das pessoas, trabalho deveria ser antes de tudo, um instrumento de crescimento, uma ferramenta que permitisse abrir as portas para os sonhos, desejos e ideais.
O trabalho no capitalismo se torna estranhado, uma vez que, se manifesta predominantemente como criador de valor de troca, ocorrendo aí não apenas o fetichismo da mercadoria, mas também, em conseqüência o estranhamento das relações humanas, uma vez que não somente os produtos do trabalho tornam-se mercadoria, mas também o próprio trabalhador torna-se mercadoria, o que o mutila em sua vida genérica. Ocorre aqui uma relação invertida: ao transformar a natureza com a predominância do trabalho como criador de valor de troca, o homem se aliena, se estranha a si e na relação com o outro; resultando em sua degradação e desvalorização enquanto ser humano.
Na contemporaneidade, a exploração é encontrada de forma escamoteada, porém viva. O trabalhador em geral, mas, em especial o da empresa privada, continua mal pago pela remuneração completamente insuficiente para sua reprodução social, pela carga horária, pelas condições insatisfatórias de trabalho, etc. Além do mais, esse trabalhador embora amparado pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas – sofre exploração sutil dessa nova organização do trabalho. Resquícios das formas de produção taylorista-fordista e, agora, toyotista.
Compreender as contradições que se colocam no processo de trabalho é, a nosso juízo, fundamental para que se possa desvendar a realidade e, pari passu, auxiliar a classe trabalhadora a se libertar de um trabalho que, no capitalismo, a sufoca, a agride, a mutila já que o trabalho é, neste modo de produção, alienação do homem. Daí, segundo Marx:
O trabalhador só se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho. Sente-se em casa quando não trabalha e quando trabalha não se sente em casa. O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Por conseguinte, não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. [....]. Uma vez pressuposta a propriedade privada, minha individualidade se torna estranhada até tal ponto, que esta atividade se torna odiosa, um suplício e, mais que atividade, aparência dela; por conseqüência, é também uma atividade puramente imposta e o único que me obriga a realizá-la é uma necessidade extrínseca e acidental, não a necessidade interna e necessária. (MARX, K. Apud, LIMA, Carlos. 2000: p. 40

Valor e (des) valor
Valor quando traduzimos o trabalho como algo edificante, trabalho-criação, quando esse processo possibilita ao homem em si reconhecer-se no produto do seu trabalho. Quando esse trabalho torna o homem livre, com possibilidades de usufruir do produto final do seu esforço, quando esse trabalho é sinomino de crescimento pessoal.
(Des) valor quando o trabalhador perde a dimensão lúdica do trabalho e fica apenas com a parte obrigatória, trabalho-sobrevivência, quando o trabalhador vende a sua força de trabalho, tornando-se mercadoria nas mãos do capitalista.
“de acordo coma sua natureza contraditória e contrastada, o modo de produção capitalista vai um muito mais longe, o desperdiçar da saúde e da vida do trabalhador, a degradação das suas condições de vida, fazem parte, para o capitalista, da economia na utilização do capital constante e constituem meios de aumentar a taxa de lucro.Como o operário passa a maior parte da sua vida no processo de produção, as condições do processo de produção são, em grande parte, as condições do seu processo vital activo, as suas condições de vida , e a economia(no sentido de poupança) é nessas condições de vida um método para elevar a taxa de lucro.... ” (Marx, K. 190,1975)
    
Dessa forma fica-nos a reflexão
Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e actividades são tragadas pela cobiça.” Karl Marx
Essa frase de Marx nos mostra a essência do trabalho e a que o mesmo no sistema de produção capitalista nos reduz. Valor teria se o trabalho proporcionasse ao homem concomitantemente comer, beber, comprar livros, ir ao teatro, pensar, amar....
TRABALHO EIS AI O FIM DO HOMEM!    


Referencias Bibliográficas
Marx, K. Textos Econômicos. Edições Mandacaru. SP 1990 ‘na coleção biblioteca do socialismo cientifico, n 6’
Marx, K. Textos Filosóficos. Edições Mandacaru. SP 1990 ‘na coleção biblioteca do socialismo cientifico, n 5’
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos, Apud, LIMA, Carlos. Globalização e fala humana no contexto neoliberal, In, Educação: Nave do futuro, PA, Labor Editorial, 2000.
Por Paula Fernanda Menezes de Menezes

domingo, 15 de maio de 2011

Ensaios: Reestruturação produtiva e Novas Relações de Trabalho

Ensaios: Reestruturação produtiva e Novas Relações de Trabalho
Paula Fernanda Menezes de Menezes – Assistente Social

Estamos chegando a meados do século XXI com profundas transformações na historia da humanidade. As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, essas novas formas de organização da produção, trouxe aos trabalhadores dos diversos setores, condições material e psicologicamente precárias, bem como o desenvolvimento de várias atividades e a ampliação da jornada de trabalho.
Nessa nova referência de trabalho reorganizada com a reestruturação produtiva cujo esforço de renovação, revoluciona a relação capital - trabalho a cada nova crise e conjuntura. A reestruturação produtiva é compreendida como sendo um fenômeno ligado à globalização, onde as empresas para obterem maior competitividade a nível global se reestruturam, caracterizando-se por dois elementos: Inovação tecnológica[1] e Inovação organizacional[2]. A reestruturação produtiva veio com a chamada "Terceira Revolução Industrial" que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Ela se apresentou como oposição ao modelo Fordista-Taylorista de produção e começou a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 1970.

Foi a partir dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho norteadas pela reestruturação  produtiva, que se reproduziu novas formas de alienação da classe trabalhadora, seja ela de natureza física, psicológica ou social, como composta por um conjunto de reações fisiológicas que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo psico-físico-social do trabalhador.
Segundo Alves e Antunes (2004), o mundo do trabalho atualmente tem recusado os trabalhadores herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializada, que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era toyotista. Sendo assim o que muda é a forma de implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo /fordismo, ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operaria de modo integral.
Ainda com de acordo com Alves e Antunes (2004), todos esses processos e mudanças no mundo do trabalho culminou, naquilo que denominam de, “alienação/estranhamento” que é ainda mais intensa nos estratos precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário, e precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade. Ainda concordando com Alves e Antunes são nos estratos mais penalizado pela precarização/exclusão do trabalho, que o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência e se manifestam hoje, intensamente, em tantas partes do mundo e, particularmente, na América Latina.
 
Diante desse cenário somos convidados a refletir sobre o movimento que esses trabalhadores veêm fazendo em torno dessas mudanças, como essa lógica dos Programas de qualidade total (PQT) vem alterando o papel do trabalhador. Existe uma mudança de tratamento do trabalhador a partir do PQT, desmancha-se aquele padrão hierárquico de organização (Gerente, supervisor, trabalhadores...) e agora o trabalhador passa a ser visto como co-participe do sucesso da empresa, o mesmo tem que ter qualidades como iniciativas, criatividade, liderança, etc. Todo esse aparato psico-empresarial proporciona ao trabalhador um sentimento de auto valorização, de pertencimento na empresa, a ilusória frase “eu visto a camisa da empresa”, tudo isso distancia o trabalhador de sua real luta, a Luta de Classe. Nessa fase o mesmo não se percebe mais enquanto classe, coletividade, apenas mais um na “corrida dos ratos[3]” mergulhado em sua individualidade e ávido por sucesso, premiação e promoção na empresa.
Há quem faça severas críticas a esse modelo pós-moderno de administrar, uma vez que este não trabalha a igualdade, a coletividade, a repartição dos lucros, esse modelo escamoteia a realidade da exploração, agora de forma menos sentida, logo, menos sofrida. Segundo Seligmann (1994) é uma forma de controle sofisticado onde:
As instrumentações de dominação que se fazem através da desinformação, da utilização de sentimentos e da estimulação do orgulho pelo trabalho bem feito são algumas das técnicas adotadas pelo poder que recebem fortalecimento considerável da disciplinação, favorecendo a eficácia da mesma, preparando o terreno para garantir a aceitação das exigências disciplinares. Desta forma, assegura-se também que os “corpos dóceis”, de que nos fala Foucault, se tornem ainda mais dóceis. (1994: 97-98).


Com essas exemplificações agrego à tese que defende Antunes e Alves (2004), que não há o fim do trabalho e sim uma reorganização nesse mesmo mundo e consequentemente também a classe trabalhadora se organiza conforme se organiza o trabalho, sendo assim a classe trabalhadora hoje é compreendida pela totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho classe-que-vive-do-trabalho, despossuídos dos meios de produção.

[3] Referência retirada do livro Pai Rico Pai Pobre de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter




[1]Base microeletrônica (chips). Exemplos: computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing; o desenho e produção industrial com auxílio de computadores, etc. (Coletânea diversas)
[2]Terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, os Círculo de Controle de Qualidade - CCQ, a qualidade total, etc. (Coletânea diversas)


Referencias Bibliográficas.

Antunes Ricardo e Alves, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago. 2004.
PINTO, G. Augusto. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo. São Paulo: Expressão Popular,2007.
SELIGMANN, Silva, Edith. Desgaste Mental no Trabalho Dominado. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Cortez Editora, 1994





quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Importância da Família no cumprimento da MSE de Liberdade Assistida no Polo Unama.

A Importância da Família no cumprimento da MSE de Liberdade Assistida no Polo Unama.
Paula Fernanda M de Menezes*

1. O Conceito Contemporâneo de Família
            Até o advento da Constituição Federal de 1988, o conceito jurídico de família era extremamente limitado e taxativo, pois o Código Civil de 1916 somente conferira o status familiae àqueles agrupamentos originados do instituto do matrimônio.
            Além disso, o modelo único de família era caracterizado como um ente fechado, voltado para si mesmo, onde a felicidade pessoal dos seus integrantes, na maioria das vezes, era preterida pela manutenção do vínculo familiar a qualquer custo ("o que Deus uniu o homem não pode separar") – daí porque se proibia o divórcio e se punia severamente o cônjuge tido como culpado pela separação judicial.
            Entretanto, os princípios preconizados na Carta Magna provocaram uma profunda alteração do conceito de família até então predominante na legislação civil.
Inicialmente, há de se mencionar que o princípio do reconhecimento da união estável (art. 226, parágrafo 3º) e da família monoparental (art. 226, parágrafo 4º) foi responsável pela quebra do monopólio do casamento como único meio legitimador da formação da família.
O princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) é o principal marco de mudança do paradigma da família. A partir dele, tal ente passa a ser considerado um meio de promoção pessoal dos seus componentes. Por isso, o único requisito para a sua constituição não é mais jurídico e sim fático: o afeto.
            Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica (casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Em outras palavras, o ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros enxergam uns aos outros como seu familiar. Não obstante a consolidação deste conceito moderno sobre a família, certo é que, no plano infraconstitucional, não se via o seu reconhecimento expresso, o que, muitas vezes, causava insegurança aos magistrados no julgamento dos casos concretos, principalmente nas lides envolvendo uniões homossexuais (ou homoafetivas, termo mais apropriado para o cenário da atualidade), optando eles, no vazio legislativo, pelo não reconhecimento de qualquer outro tipo de entidade familiar além daquelas 3 (três) já previstas na Constituição Federal.
            Inúmeras são as influências do ambiente social para a formação da personalidade humana. Inegavelmente, a família é a mais importante de todas. É ela que proporciona as recompensas e punições, por cujo intermédio são adquiridas as principais respostas para os primeiros obstáculos da vida. É instituto no qual a pessoa humana encontra amparo irrestrito, fonte da sua própria felicidade.
            Os membros integrantes da família (pais, irmãos, avós etc) moldam o ser humano, contribuindo para a formação do futuro adulto. Não foi por acaso que um dos maiores nomes da literatura brasileira, Machado de Assis, já afirmara que "o menino é pai do homem".
            O grupo familiar tem sua função social e é determinado por necessidades sociais. Ele deve garantir o provimento das crianças, para que elas, na idade adulta, exerçam atividades produtivas para a própria sociedade, e deve educá-las, para que elas tenham uma moral e valores compatíveis com a cultura em que vivem. Tanto assim que a organização familiar muda no decorrer da história do homem, é alterada em função das mudanças sociais.
            Nesse sentido, entende-se que a família não é apenas uma instituição de origem biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e sociais.
            Nas palavras da Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, ela "é uma entidade histórica, ancestral como a história, interligada com os rumos e desvios da história ela mesma, mutável na exata medida em que mudam as estruturas e a arquitetura da própria história através dos tempos (...); a história da família se confunde com a história da própria humanidade".
            Trata-se, em verdade, da celula mater da sociedade, do seu núcleo inicial, básico e regular. É um microssistema social, onde os valores de uma época são reproduzidos de modo a garantir a adequada formação do indivíduo.
                       
2. Famílias e a Lei
Aos adolescentes em conflito com a Lei, pessoas entre doze e dezoito anos de idade incompletos, o Estatuto da Criança e do Adolescente normatiza dez medidas pertinentes aos pais e responsável. Conforme:
Art. 129 - São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do poder familiar.

Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.

Art. 130 - Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
Segundo o Sinase, Eixo – Abordagem familiar e comunitária.

·         garantir o atendimento as famílias dos adolescentes estruturado em conceitos e métodos que assegurem a qualificação das relações afetivas, das condições de sobrevivência e do acesso as políticas publicas dos integrantes do núcleo familiar, visando seu fortalecimento;
·         ampliar o conceito de família para aquele grupo ou pessoa com as quais os adolescentes possuam vínculos afetivos, respeitando os diferentes arranjos familiares;
·         propiciar trabalhos de integração entre adolescentes e seus familiares que possam desenvolver os temas referentes a promoção de igualdade nas relações de gênero e etnico-raciais, direitos sexuais, direito a visita intima (exclusivo para medida de internação), discussão sobre a abordagem e o tratamento sobre o uso indevido de drogas e saúde mental;
·         realizar visitas domiciliares a fim de constatar a necessidade socioeconômica e afetiva das famílias e encaminhá-las aos programas públicos de assistência social e apoio a família;
·         identificar e incentivar potencialidades e competência do núcleo familiar para o mundo do trabalho articulando programas de geração de renda, desenvolvendo habilidades básicas, especificas e de gestão necessárias a auto - sustentação;
·         promover ações de orientação e conscientização das famílias sobre seus direitos e deveres junto a previdência social, sua importância e proteção ao garantir ao trabalhador e sua família uma renda substitutiva do salário e a cobertura dos chamados riscos sociais (tais como: idade avançada, acidente, doença, maternidade, reclusão e invalidez, entre outros), geradores de limitação ou incapacidade para o trabalho;
·         prever na metodologia da abordagem familiar do atendimento socioeducativa basicamente: atendimento individualizado, familiar e em grupo; elaboração de plano familiar de atendimento; trabalho com famílias e grupos de pares; inclusão de famílias em programas de transferência de renda visando a provisão de condições de sobrevivência as famílias integradas com políticas de emprego; visitas domiciliares;

3. A importância do Trabalho com as Famílias no Polo.

Acreditamos que o trabalho desenvolvido pelo Polo Unama de Liberdade com as Famílias, seja de suma importância para o desempenho do adolescente atendido, uma vez que, é partindo do incentivo familiar que o mesmo começa a refazer ou fazer seu projeto de vida, buscar por suas aspirações pessoais.
Na adolescência a família é o primeiro grupo de referência. Seus padrões, sua dinâmica e valores moldam o pensamento desde a infância. A família, enquanto estrutura primeira da vida de uma pessoa, possibilita as relações da criança com objetos externos, assumindo juntamente com os fatores constitucionais, grande importância para o destino do indivíduo. A família nesse processo funciona como o um elo motivador, proporcionando ao adolescente o cumprimento da medida sócio educativa com sucesso
 "Família é quem você escolheviver                 
Família é quem você escolhe pra você
Não precisa ter conta sanguínea
 É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia”






REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/9138.  Acesso em: 7 maio 2011.

De Paula, Liana. A Família e as Medidas Socioeducativas: a inserção da família na socioeducação dos adolescentes autores de ato infracional – Dissertação/ Universidade de São Paulo-2004

Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA -  MP/GOV/PA,2003

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE - SEDH/PR/Brasília/2009.

*Assistente Social – Graduada pela Universidade Federal do Pará e Especialista em Filosofia da Educação pela mesma Universidade e Voluntária do Polo Unama