"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Eu Canto a Mulher Sofrida - Artur da Tavola

Eu Canto a Mulher Sofrida
sofrida é mulher por quem a vida passou machucando uma sensibilidade menina, feita de dádiva, confiança no próximo, esperança de melhorar o mundo.
Sofrida é a mulher que não viveu em vão, na delicia burguesa de ser objeto de sexo, admiração fácil ou mimo, preferindo o caminho penoso da independência, a procura honrada da própria dimensão pessoal, existencial, política.
Sofrida não é a pessoa derrotada ou apenas sofrente, fonte de dores e masoquismo sem fim: sofrida é a pessoa que tem energia e nervos para enfrentar na carne todas as disposições e contradições necessárias a viver e a conquistar o direito à vida, à liberdade, à solidão, ao afeto dos seus.
Sofrida é a pessoa que olha ao seu lado a miséria social e humana e não fica impassível ou indiferente, apenas porque se supõe livre de idêntico perigo.
Sofrida é a mulher de uma geração que assistiu à castração de seu sonho político, embora o veja crescendo, melhorando e se transformando pelo mundo a fora.
Sofrida é a mulher que viveu varias décadas em cada uma das três ultimas. É a pessoa que soube incorporar ao seu viver todas as dores necessárias à libertação: dos preconceitos próprios e alheios; dos atrasos ancestrais; da dor de viver adiante no tempo; das agressões retrógradas; das maldades profissionais; do medo da sua mensagem renovadora.
Sofrida é a mulher que teve restrições na sua carreira, ameaças, invasões do seu espaço vital por causa das suas idéias; por causa da sua capacidade de viver com intensidade tudo aquilo em que estava crendo do fundo de sua sincera convicção.
Sofrida é a mulher que assistiu à queda de muitos, ao cansaço de outros, à morte de terceiros, à dor, à tortura, ao vicio, à desistência à loucura, à resistência,à tenacidade, ou a convicção de todos os que se insurgiram contra qualquer forma de agressão humana, de opressão ou de injustiça.
Sofrida é a mulher que aí está, cada vez melhor porque de costas erguidas a despeito de tudo o que viu. Sofreu e passou.
Sofrida é a mulher que não desistiu de Ser; que não se alienou; que não fugiu da dor; que se embelezou com as rugas conseguidas; que se purificou com as impurezas que em si descobriu; que mergulhou com igual coragem na própria miséria e na própria grandeza, saindo melhor de ambas.
Artur da Távola – Cada um no meu lugar, 1980


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pensar e Transgredir - Lya Luft

Pensar 'e o que a vida nos ensina em passos lentos, sabe aquele sentimento cantado por Roberto Carlos em "Traumas'' - sentimentos que a gente so sente depois de "crescer". Depois de tantas fantasias, preciso mesmo 'e pensar, e que bom que so depois de crescer...,que bom que papai tambem soube mentir..., e que bom que so agora os anjos comecam  a partir...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Na carona da Ética: caso Demostenes.

Essa gente que fala o tempo todo contra a corrupção está apenas cuspindo no prato em que não comeu. Millôr Fernandes.

 Será penso eu? “quando João fala muito de Pedro, João não fala de Pedro fala de João” (Comentário de Paula Menezes)


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Comentario Ambiental sobre a RIO+20

Um Comentário que particularmente gostei, sei que e so uma parte do muito que se discutiu no Rio+20, acredito que para se discutir seriamente, com vontade e pra valer sobre as questões ambientais a muito que se avançar... será necessário  + 100 anos de muito  investimento educacional para se pensar numa mudança de consciência, de produção e de consumo. Infelizmente essa problemática e o assunto “ESPETACULO” do momento e espetáculo só da platéia.

Entrevista Retirada do site Carta Capital - Coluna Internacional
RIO+20: Falência da diplomacia, fraqueza da democracia
Por Pierre Calame
Deixamos o Rio de Janeiro com o terrível mal estar de um planeta ferido. Foram mobilizadas dezenas de milhares de pessoas e quase uma centena de chefes de Estado para adotar um texto de 50 páginas do tipo “pegar ou largar”, que balbucia engajamentos já assumidos há muito tempo, porém não mantidos! Em todos os sentidos do termo, a missa foi rezada. Mas está fora de questão assumir nossas interdependências! Não pode haver direito de fiscalização de um Estado pelo outro! Cada um é dono de seu próprio nariz! E a participação da sociedade civil? Depois de meses tentando, sem sucesso, inserir propostas no texto oficial, o “stakeholder forum”, que representa diversos atores atuantes na ONU, denunciou publicamente o baile de máscaras.
A União Europeia, pressionada a aceitar o texto apresentado pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores, se rendeu após disparar alguns tiros ao ar por orgulho. Rendeu-se, sim, mas atenção: permaneceu unida! Consenso. Todos estavam de acordo.
Os especialistas em negociação internacional introduziram no texto alguns avanços: algumas palavras suplementares sobre a governança integrada dos oceanos, um fórum de atores que se transformará em um fórum de alto nível, algumas promessas vagas sobre o reforço do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o engajamento para elaborar objetivos relacionados ao desenvolvimento. O negociador brasileiro compartilhou a seguinte confidência comovente: nós recuamos menos do que temíamos recuar! Ou seja, não se trata mais de um engajamento para a grande transição. Estamos em uma Batalha de Verdun.
A declaração multiplica os chamados às coletividades territoriais. Excelente! Mas, neste contexto, foi mais uma constatação de falência: os Estados, incapazes de conduzir uma mudança urgente, devolvem a chave da cidade planetária. A Rio+20 foi a comprovação da falência de uma ordem mundial intergovernamental reduzida à diplomacia: a presidenta brasileira orientou seu ministro das Relações Exteriores a conduzir as negociações com outros ministros das Relações Exteriores. Não eram ministros de assuntos mundiais ou de assuntos comuns planetários! Somos “nós” enfrentando o “resto do mundo”. O planeta não é uma questão a ser discutida, mas um campo de batalha de vontades de poder.
Será, então, que os “interesses nacionais” existem de fato em essência ou não seriam eles construídos em função desta instituição chamada Estado nação? Seriam eles diferentes em relação a todos os outros? Evidentemente não. A própria maneira de organizar o diálogo internacional predetermina o resultado. Não existe, em nível mundial, nenhum organismo encarregado de “falar do interesse geral” como é o caso da Comissão Europeia, que fala pela Europa. O projeto de declaração foi apenas o fruto de uma síntese de propostas nacionais. Resultado: a produção de uma reafirmação, página após página, da soberania nacional e um catálogo de boas intenções, cuja prática dependerá de engajamentos voluntários.
Outro modo de negociação, por exemplo, por meio de uma assembleia mundial de cidadãos a representar diferentes forças sociais e encarregada de elaborar propostas sujeitas à deliberação dos Estados, traria um resultado muito diferente. A contradição entre o nível de nossas interdependências e o modo de gestão baseado no mercado se tornou explosiva. Em vinte anos, os equilíbrios dos quais nossa sobrevivência depende não pararam de se degradar. Nossa governança mundial se tornou o mais grave de todos os riscos para a sobrevivência da humanidade. Ocorreu no Rio de Janeiro uma Munique ecológica mundial: os chefes de Estado retornaram às suas casas, aliviados pelo consenso encontrado. Mas quantos ainda terão que resmungar “que imbecis”, como fez Daladier ao voltar do Acordo de Munique feito com Hitler, quando foi aclamado pelo povo, diante do resultado obtido?*
E agora? Será preciso tomar iniciativas que desagradam. Avançar com aqueles que quiserem avançar. Abandonar a ideia de que um comércio mundial livre e sem condicionantes sociais e ambientais vai garantir a paz. Se alguma paz houver, será como aquela de Munique, uma paz que prepara a futura guerra. Comecemos por admitir que todos os atores, sejam públicos ou privados, devem prestar contas para a comunidade mundial do impacto de seus atos, uma vez que este impacto ultrapassa as fronteiras nacionais, e construamos, sobre esse princípio, um direito internacional. Coloquemos em prática um comércio internacional baseado em cadeias de produção e consumo sustentáveis e iniciemos um debate internacional sobre o novo modelo de economia. A União Europeia, apresentada atualmente como o corpo doente da globalização, é a única que vem inventando a maneira de se unir mantendo o respeito às diferenças e que tem aprendido a superar de modo pacífico seus egoísmos nacionais. Cabe a ela tomar a palavra e, feita a reflexão, recusar uma Munique ecológica mundial. E a França se orgulhará de desempenhar um papel de protagonista neste processo.
Pierre Calame é presidente da Fundação Charles Mayer para o Progresso do Homem, com sede na França.

Um poema pra tornar mais suave essa problemática tão seria...
Poema Retirado da Internet.
ECOLOGIA - Meio Ambiente

Desde o início, tudo mudou
O meio ambiente, já se transformou,
Tapamos nossos olhos, para não ver
Tudo que está acontecendo

Não queremos perceber
Animais famintos, outros extintos
As florestas mudaram
Muitas árvores derrubaram.

O povo consumista, não quer saber
A natureza pede ajuda,
Sem ninguém pra socorrer

A mata está sufocada
As pessoas ficam caladas
Fábricas, fumaças...
Dinheiro sujo, só desgraça.

Temos que agir,
O mundo vai cair
Talvez caia em cima de nós
E ninguém escutará nossa voz.

de Caroline M. CostaDuque de Caxias - RJ - por correio eletrônico

Video com Ricardo Antunes - para complementar a postagem anterior
" O Fortalecimento do Capitalismo e a precariedade no Mundo do Trabalho"

 





quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Fortalecimento do capitalismo e a fragilidade no mundo do trabalho

          Muitas coisas vieram pra ficar...o capitalismo tambem, juntamente com suas mazelas...
           As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, essas novas formas de organização da produção, trouxe aos trabalhadores do setor terciário condições material e psicologicamente precárias, bem como o desenvolvimento de várias atividades e a ampliação da jornada de trabalho.
Foi a partir dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho norteadas pela reestruturação produtiva, que se reproduziu novas formas de alienação da classe trabalhadora, seja ela de natureza física, psicológica ou social, como composta por um conjunto de reações fisiológicas que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo psico-físico-social.
A reestruturação produtiva é compreendida como sendo um fenômeno ligado à globalização, onde as empresas para obterem maior competitividade a nível global se reestruturaram, caracterizando-se por dois elementos: Inovação tecnológica[1] e Inovação organizacional[2]. A reestruturação produtiva veio com a chamada "Terceira Revolução Industrial" que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Ela se apresentou como oposição ao modelo Fordista-Taylorista de produção e começou a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 1970.
Segundo Pinto (2007) o modelo Fordista-Taylorista surgiu na empresa FORD a partir de 1913 e teve como base tecnológica a 2ª revolução industrial, que se caracteriza pelo uso da Eletricidade, aço, eletromecânica, motor a explosão, petróleo, petroquímica etc. O equilíbrio dessa articulação manteve-se ate meados dos anos 1970, quando sofreu o impacto de transformações de varias ordens, em especial a crise do petróleo. Favorecendo assim o advento do Toyotismo, foi acompanhado das seguintes fases: a introdução na indústria automobilística japonesa, da experiência do ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas; a necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores; a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban[3]; e a expansão desse mesmo método para as empresas subcontratadas e fornecedoras.
Segundo Alves e Antunes (2004), o mundo do trabalho atualmente tem recusado os trabalhadores herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializada, que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era toyotista. Sendo assim o que muda é a forma de implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo /fordismo, ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operaria de modo integral.
Ainda com de acordo com Alves e Antunes (2004), todos esses processos e mudanças no mundo do trabalho culminou, naquilo que denominam de, “alienação/estranhamento” que é ainda mais intensa nos estratos precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário, e precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade. Ainda concordando com Alves e Antunes são nos estratos mais penalizado pela precarização/exclusão do trabalho, que o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência e se manifestam hoje, intensamente, em tantas partes do mundo e, particularmente, na América Latina.
É sob a condição da separação absoluta do trabalho, que a alienação assume a forma de perda de sua própria unidade: trabalho e lazer, meios e fins, vida pública e vida privada, entre outras formas de disjunção dos elementos de unidade presentes na sociedade do trabalho. Expandem-se, desse modo, as formas de alienação dos que se encontram à margem do processo de trabalho.
Contrariamente à interpretação que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o aprofundamento das contradições do capital.
Quanto mais o sistema tecnológico da automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende em direção a limites absolutos. Quando se pensa na enorme massa de trabalhadores desempregados, as formas de absolutização da alienação são diferenciadas. Variam da rejeição da vida social, do isolamento, da apatia e do silêncio (da maioria) até a violência e agressão diretas.
O relacionamento entre pessoas e organizações é considerado antagônico e conflitante. Acredita-se que os objetivos das organizações: lucro, produtividade, eficácia, redução de custos, entre outros, são incompatíveis com os objetivos dos trabalhadores que por sua vez almejam melhores salários, lazer, segurança no trabalho, desenvolvimento e progresso social.
Atualmente, a lógica empresarial encontra-se na era Antropocêntrica, onde toda a centralidade está no homem, na pessoa. As pessoas passam a compor o elemento básico do sucesso empresarial. Em vez de investirem diretamente só nos consumidores potenciais, na estrutura física, passam com essa lógica a investir em quem atende em quem cria etc., criando pessoas com visão estratégica, poder de negociação, espírito de liderança, proativo, que saiba trabalhar em equipe, mas à luz da crítica dialética, estes sujeitos nada mais são, que trabalhadores alienados em seu processo de trabalho.
Há quem faça severas críticas a esse modelo pós-moderno de administrar, uma vez que este não trabalha a igualdade, a coletividade, a repartição dos lucros, esse modelo escamoteia a realidade da exploração, agora de forma menos sentida, logo, menos sofrida. Segundo Seligmann (1994) é uma forma de controle sofisticado onde:
As instrumentações de dominação que se fazem através da desinformação, da utilização de sentimentos e da estimulação do orgulho pelo trabalho bem feito são algumas das técnicas adotadas pelo poder que recebem fortalecimento considerável da disciplinação, favorecendo a eficácia da mesma, preparando o terreno para garantir a aceitação das exigências disciplinares. Desta forma, assegura-se também que os “corpos dóceis”, de que nos fala Foucault, se tornem ainda mais dóceis. (1994: 97-98).
Atualmente o mundo do capital se encontra em crise e, nesse sentido, o terciário não mais se constitui em solução provisória para o desenvolvimento capitalista. Então, o problema que transparece é o de que, nesse momento de crise, em que variados processos e procedimentos de precarização do trabalho estão sendo postos em prática, os trabalhadores estão perdendo seus empregos, ganhando menos, perdendo saúde e tendo aumentadas as tensões no seu dia-a-dia sem as mínimas garantias de sua reprodução futura.
Com essas exemplificações pretendo agregar na pesquisa a tese que defende Antunes e Alves (2004) que não há o fim do trabalho e sim uma reorganização nesse mesmo mundo e consequentemente também a classe trabalhadora se organiza conforme se organiza o trabalho, sendo assim a classe trabalhadora hoje é compreendida pela totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho classe-que-vive-do-trabalho, despossuídos dos meios de produção.
Paula Menezes - Trecho retirado da Justificativa do Projeto para Mestrado.



[1]Base microeletrônica (chips). Exemplos: computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing; o desenho e produção industrial com auxílio de computadores, etc. (Coletânea diversas)
[2]Terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, os Círculo de Controle de Qualidade - CCQ, a qualidade total, etc. (Coletânea diversas)
[3]PINTO, G. Augusto (2009, p.79) Kanban um sistema de informações e transporte interno, com informação e quantidade necessária de peças e materiais encomendados por cada posto de trabalho.