"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Manifesto do Partido Comunista - Em Quadrinhos





RESUMO DA OBRA - O Manifesto do Partido Comunista.
Marx, Karl e Engels, Friedrich


O Manifesto Comunista, originalmente denominado Manifesto do Partido Comunista, publicado pela primeira vez em 21 de Fevereiro de 1848, é históricamente um dos tratados políticos de maior influência mundial. Comissionado pela Liga Comunista e escrita pelos teóricos fundadores do socialismo científico Karl Marx e Friedrich Engels, expressa o programa e propósitos da Liga.
O Manifesto sugere um manual de idéias e ações para uma revolução socialista através da tomada do poder pelos proletários. O Manifesto Comunista faz uma dura crítica ao modo de produção capitalista e na forma como a sociedade se estruturou através desse processo de produção. Busca organizar o proletário como classe social capaz de reverter sua precária situação e descreve os vários tipos de pensamento comunista, assim como define o objetivo e os princípios do socialismo científico.
A obra se divide em Quatro capítulos. Onde o primeiro com o Titulo Burgueses e Proletários – nos relata o processo de constituição social a partir a perspectiva de classe de ambos os grupos. Um que se tornou Dominante e outro Dominado. “A historia de todas as sociedades que existiram até hoje é a historia de lutas de classes”. Os autores relatam essa completa estruturação da sociedade, mostrando como se formou essas duas classes. “Na Roma Antiga temos patrícios, guerreiros,plebeus,escravos; na idade Idade Média, senhores feudais,vassalos, mestres, companheiros, aprendizes, servos; e, em quase todas essas classes, outras gradações particulares. (...) A moderna sociedade burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não eliminou os antagonismos entre as classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das antigas. (...) A época da Burguesia, ou seja, atualidade, caracteriza-se, entretanto, por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado.”
(...) A descoberta da América, a expansão do comercio, dos mercados – Indias Orientais e da China, da navegação, da industria favoreceram um rápido desenvolvimento do elemento revolucionário na sociedade feudal em decomposição.(...) Dessa forma podemos ver o quanto a burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma serie de revoluções nos modos de produção e de troca.
(...) A burguesia desempenhou na historia um papel extremamente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Dilacerou impiedosamente os variegados laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, e não deixou subsistir de homem para homem outro vinculo que não o interesse nu e cru, o insensível “pagamento em dinheiro”. (...) A burguesia rasgou o véu de comovente sentimentalismo que envolvia as relações familiares e as reduziu a meras relações monetárias. Dessa forma muito brilhantemente os autores relatam essa dual relação de classe.
O Segundo capitulo Intitulado “Proletários e Comunistas” aborda as relações entre o partido comunista e os proletários. O partido é relacionado no texto à outros partidos e movimentos, mostrando alguns objetivos comuns a eles, como o desejo pela queda da superioridade do poder da burguesia, e conseqüentemente a passagem do poder político ao proletariado.
Sobre as propriedades, ressaltasse que o comunismo não é contra a propriedade geral, mas sim da propriedade burguesa (ou seja, a abolição da propriedade privada). O capital e o trabalho assalariado também são abordados, e nessa parte fica claro que os comunistas sofriam com a oposição que não aceitava seus ideais. É ainda nesse capítulo onde são listadas medidas para a aplicação do comunismo na sociedade. Tal lista é como se fosse um algoritmo2 para tornar a sociedade segundo os moldes comunistas. A exclusividade entre os proletários conscientes, portanto comunistas, segundo Marx e Engels, é de que visam a abolição da propriedade privada e lutam embasados num conhecimento histórico da organização social, são portanto revolucionários. Além disso, destaca que o comunismo não priva o poder de apropriação dos produtos sociais; apenas elimina o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação. Com o desenvolvimento do socialismo a divisão em classes sociais desapareceria e o poder público perderia seu caráter opressor, enfim seria instaurada uma sociedade comunista.
A terceira parte, “Literatura Socialista e Comunista”, critica três tipos de socialismo: O socialismo reacionário, que seria uma forma de a elite conquistar a simpatia do povo, e mesmo tendo analisado as grandes contradições da sociedade, olhava-as do ponto de vista burguês e procurava manter as relações de produção e de troca; o socialismo conservador, com seu caráter reformador e anti-revolucionário; e o socialismo utópico, que apesar de fazer uma análise crítica da situação operária não se apóia em luta política, tornando a sociedade comunista inatingível. Já o socialismo passado por Marx e Engels é conhecido como Socialismo Científico (o oposto de utópico).
O Quarto e concluso capítulo faz um apanhado geral das principais idéias do manifesto, motivando e dando um grande destaque ao apelo pela união do proletariado. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas. Têm um mundo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!

Resumo simplificado – aconselho todos a lerem a Obra Completa.
Paula Fernanda Menezes

Internacional Socialista

INTERNACIONAL


Música: Pierre Degeyter
Letra: Eugene Pottier



De pé ó vítimas da fome
De pé famélicos da terra
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo ó produtores.
 
Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
 
Senhores patrões chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre comum
Para não ter protestos vãos
Para sair deste antro estreito
Façamos com nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito.
 
Refrão
 
O crime do rico a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direito para o pobre
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres
 
Refrão
 
Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha.
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ele o restitua
O povo quer só o que é seu.
 
Refrão
 
Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos trabalhadores.
Se a raça vil cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verá que nossas balas
São para os nossos generais
 
Refrão
 
Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a terra aos produtivos
Ó parasita deixa o mundo.
Ó parasita que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar
 



Reestruturação Produtiva e Educação - Artigo Apresentado e publicado nos anais do XIII Congresso Brasileiro dos Assistentes Sociais - DF/Brasilia

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E EDUCAÇÃO


RESUMO
O artigo “Reestruturação Produtiva e Educação discute analiticamente a influência da reestruturação produtiva na educação, uma vez que neste contexto a educação aparece como uma forma de responder às demandas do capital e do trabalho, fazendo do educador e do educando meras mercadorias.

Palavras Chaves: Reestruturação Produtiva, Subordinação Intelectual, Welfare State, Neoliberalismo e Educação.           

1.Introdução
         A reestruturação produtiva[1] é caracterizada pelas mudanças introduzidas nos processos tecnológicos que alteraram as relações de trabalho na década de 1970. Isto porque é a partir daí que o mundo fundado no processo de produção fordista entra em crise. É nesse contexto que as novas configurações organizativas rebatem no fazer operativo do educador pedagogo, redirecionando seu papel diante das novas relações societárias.
         A reestruturação produtiva pode ser entendida como produto da crise do Welfare State que dinamizava a economia capitalista via fundos públicos tendo, como centralidade, a produção ilimitada de bens e serviços e a compra, por meio do dispêndio público, de produtos bélicos, espaciais, superinfonvias, propaganda etc. A partir da crise dos anos 70 o mundo do capital pôs, como alternativa transitória à dinâmica do capital, o neoliberalismo[2] e suas novas formas de exploração do trabalho e de apropriação das riquezas proposta pelo sistema produtivo, através da “reestruturação produtiva”. Neste contexto a educação aparece como uma forma de responder às demandas do capital e do trabalho. As “novas” propostas para a educação são produtos das sucessivas crises porque passou e passa o capitalismo. Propostas essas que fazem do educador e do educando meras mercadorias.
         Este trabalho procura clarificar analiticamente a influência da reestruturação produtiva na educação, verificando os reflexos desta nas atividades do professor e no comprometimento de sua práxis profissional, ressaltando sua relação social esgarçada pela dinâmica excludente do processo produtivo em comento. O artigo discute a reestruturação produtiva como produto da crise do processo de produção fordista e a tentativa, pelo mundo do capital, de implementar uma nova forma de produção denominada toyotismo.
         As conseqüências sociais ocasionadas por essas transformações são analisadas, com certo grau de detalhe, na prática profissional dos docentes e nas mudanças curriculares sofridas mediante esse processo. 


2.Educação: neoliberalismo e reestruturação produtiva
        
         No século XX o neoliberalismo, enquanto doutrina econômica e política, remonta a 1944 com o trabalho “O caminho da servidão” de Friedrich Hayeck que criticava os mecanismos de regulação do Estado sobre o mercado. O autor era contrário aos pressupostos keynesianos de regulação e intervenção macroeconômica do Estado capitalista no mercado, porém no pós-Segunda Guerra Mundial, o capitalismo encontrava-se em uma fase de expansão, o que dava bases para as políticas keynesianas de regulação da economia e do trabalho, daí as críticas de  Hayeck não terem obtido  êxito.
         Ressalte-se que, com a crise econômica dos anos 1970, algumas das idéias outrora liberais retornam ao debate político e econômico por intermédio do neoliberalismo, impondo limites ao Estado intervencionista, visto na época como um dos responsáveis pela crise contemporânea do modo de produção capitalista. Não resta menor dúvida de que a dinâmica centrada no endividamento público que caracterizou a economia do Estado do Bem-Estar Social entrou definitivamente em crise e, como alternativa para a continuidade da reprodução ampliada do capital a farmacopéia proposta foi o neoliberalismo. Este traz, consigo, a reestruturação produtiva que se encontra objetivada nas transformações do processo produtivo-consuntivo ocorridas nas sociedades capitalistas há pelo menos três décadas, e decorrem da crise iniciada em 1970 com a queda da taxa de lucro do capital nos países centrais, provocando baixo crescimento da produção e da produtividade, repercutindo no mundo do trabalho com índices crescentes de desemprego.
         O que mais se evidenciou na crise de sobreacumulação do capital foi a redução dos níveis de produtividade devido a uma série de fatores como: a acentuada tendência decrescente da taxa de lucro; o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção; a hipertrofia dos capitais financeiros que ganharam relativa autonomia frente aos capitais produtivos; a maior concentração de capitais devido às fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas; a crise do Welfare State ou do Estado Providência, que gerou crise fiscal do Estado capitalista com a conseqüente retração dos gastos públicos e sua transferência para o capital privado; o processo acentuado de privatizações e a flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho.
         De acordo com Antunes (2000) a crise em voga afeta tanto os aspectos materiais quanto a subjetividade do ser-que-vive-do trabalho. Nos aspectos subjetivos atingiu a consciência de classe, expressando-se nos organismos representativos como associações, sindicatos entre outros, principalmente no que diz respeito à crise de identidade, devida ao crescente desemprego, à flexibilização e à terceirização dos serviços.
         A partir dessa realidade foram introduzidas mudanças na organização produtiva, o que se convencionou chamar de reestruturação produtiva, implicando no reordenamento da produção e acumulação com repercussões no mundo dominado pelo capital, alterando processos e relações de trabalho mediante inovações no sistema produtivo e nas modalidades de gestão, consumo e controle da força de trabalho.
         É neste contexto que, segundo Antunes (2000, p.182), “os processos de trabalho recebem a influência da produção flexibilizada e de algumas modalidades de organização do trabalho, dentre as quais, destaca-se a Reengenharia”. Esta forma flexibilizada de acumulação capitalista, baseada na reengenharia[3], também denominada de “empresa enxuta”, teve graves conseqüências no mundo do trabalho.
         Segundo Harvey (1994, p.148).
As economias de escala baseadas na produção fordista de massa foram substituídas por uma crescente capacidade de manufatura de uma variedade de bens e preços baixos em pequenos lotes. As economias de escopo derrotaram as economias de escala. [...]
Esses sistemas de produção flexível permitiram uma aceleração do ritmo da inovação do produto, ao lado da exploração de nichos de mercado altamente especializados e de pequena escala – ao mesmo tempo que dependeram dela. Em condições recessivas e de aumento da competição, o impulso de explorar essas possibilidades tornou-se fundamental para a sobrevivência.

Concorda-se com Antunes (2000) quando destaca algumas das conseqüências que a reengenharia trouxe para o mundo do trabalho, sendo elas: a redução do proletário fabril estável; incremento do novo proletariado; do subproletariado fabril e de serviços, sendo os terceirizados, subcontratados e o trabalho feminino os mais penalizados que chegam a atingir mais de 40 % da força de trabalho nos países avançados; exclusão de jovens e idosos do mercado de trabalho nos países centrais; inclusão precoce de crianças no mercado de trabalho, entre outros.
No Brasil, no final da década de 70 e início de 80, as empresas precisavam atingir alto padrão de qualidade para permanecerem competitivas nacional e internacionalmente. Dessa forma era imprescindível inovar a tecnologia utilizada com novas técnicas de produção, tendo como base o modelo japonês, também denominado toyotismo.
Essas mudanças vão se refletir intensamente na Pedagogia. Embora sua literatura acadêmica continuasse privilegiando uma abordagem crítica quanto à reestruturação produtiva e o neoliberalismo, o que se observa é que, na prática, na execução das atividades do educador, em muitas organizações de ensino, as categorias e princípios da reestruturação produtiva já foram assimilados, principalmente as ligadas à Qualidade Total. Assiste razão a Silva (l994, pp. 19-20) quando afirma:
É difícil discordar da descrição da atual situação educacional feita pelo discurso neoliberal. É mais difícil ainda ficar contra a proposta de mais qualidade, sobretudo quando essa “qualidade” é anunciada como “total”. Entretanto, o que o discurso neoliberal em educação esconde é a natureza essencialmente política da configuração educacional existente. A educação pública não se encontra no presente e deplorável estado principalmente por causa de uma má gestão por parte dos poderes públicos, mas sim, sobretudo, porque há um conflito na presente crise fiscal entre propósitos imediatos de acumulação e propósitos de legitimação...

Dentre os princípios mais usados, destacam-se a total satisfação dos discentes e/ou usuários; o incentivo à cultura da participação, gerando o compromisso com os resultados dos serviços; a constância nos propósitos da relação ensino-aprendizagem; a utilização de planejamento estratégico; o aperfeiçoamento contínuo com ênfase no uso de novas tecnologias; a delegação de competência, o que pressupõe descentralização de poder, ou seja, transferir responsabilidades; ter um sistema ágil de comunicação para obter resultados com maior rapidez; disseminar informações fundamentadas na qualidade para que os envolvidos no processo possam saber qual é o serviço e a missão a ser alcançada; garantia de qualidade dos produtos ou serviços e a não aceitação de erros, objetivando um padrão de desempenho que deve ser o de “erro zero”, ou “reclamações zero”. Esses, enfim, se constituem em alguns dos princípios da ideologia da qualidade total própria ao mundo neoliberal.
Sob essa perspectiva, são utilizados pelos educadores terminologias como: missão, “clientela interna” e “clientela externa”, mudança de cultura, entre outras. Ressalte-se que o Círculo de Controle de Qualidade - CCQs, é uma das técnicas típicas da reestruturação produtiva que tomou força no Brasil a partir do Governo Collor e Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990.
A Qualidade Total é, portanto, a forma ideológica que o mundo do capital em crise procura justificar as mazelas de que é agente portador. Para Antunes (2000, p.182) “O operário deve pensar e fazer pelo e para o capital, o que aprofunda (ao invés de abrandar) a subordinação do trabalho ao capital” Nesse sentido, o que se espera do trabalhador é a sua colaboração em todos os processos.
Segundo Wolff (1998, p.123-124):
A sutileza desta forma de dominação reside exatamente no fato de a mesma estar encoberta sob a aparente autonomia e reintegração entre o trabalho de concepção e o de execução. Sob tal aparência, a unilateralidade do processo produtivo bem como o unidirecionamento das atividades produtivas, em prol do capital, continua, e é ainda mais exacerbada.

Dessa forma, o engajamento do educador torna-se indispensável à garantia desse novo processo produtivo, que faz da educação mera mercadoria, ou seja, subsumida à empresa flexível. Nesse sentido, este trabalho analisa os impactos da reestruturação produtiva advinda da Reforma do Estado posta em prática pelos governos FHC.
A Reforma do Estado, também denominada de Reforma da Gestão Pública de 1995, elaborada por Luís Carlos Bresser Pereira, na época ministro do Planejamento e Gestão, tinha por objetivo contribuir para a formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficiente.
Ela compreende três dimensões: a) uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da estrutura organizacional do aparelho do Estado através da criação de novos formatos organizacionais, como as agências executivas, regulatórias e as organizações sociais; b) uma dimensão de gestão, definida pela maior autonomia e a introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores – a administração por resultados, a competição administrada por excelência e o controle social – em substituição parcial dos regulamentos rígidos, da supervisão e da auditoria que caracterizam a administração burocrática e, c) uma dimensão cultural de mudança de mentalidade, visando passar da desconfiança generalizada que caracteriza a administração burocrática para uma confiança maior, ainda que limitada, própria da administração gerencial.
A crítica pertinente feita a essa reforma vem da lavra de Lima e Silva (no prelo)
Percebe-se, no caso brasileiro mais uma herança do governo FHC a dificultar as negociações junto à OMC no que se refere ao que argumentamos acima. O Governo de Fernando Henrique Cardoso teve no centro de suas propaladas propostas políticas a construção e o fortalecimento da cidadania e o aumento das possibilidades de emprego, projeto tornado público através de discursos dos reformadores ou de seus arautos com grandes espaços e tempos na mídia, mediante o alardear da construção do novo cidadão brasileiro, cujo perfil teria como pilares o modelo de competência, da empregabilidade e da participação política e social nos rumos do país, contraditoriamente em meio a uma intensa mudança institucional e à construção de uma nova organização social, isso induzido por um novo paradigma de Estado, cuja racionalidade encontrava-se vazada por valores eminentemente mercantis.

Diante do exposto questiona-se, qual o lugar da Universidade Pública e das práticas docentes nesse processo?
As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, obrigam os professores, enquanto trabalhadores, a intervirem de forma efetiva na instrução e atendimento às demandas seja ingressantes ou provenientes do trabalho que, no final do século XX e início do XXI, principalmente com o advento do neoliberalismo tornaram-no precarizado.
Não há como negar a relação capital/trabalho. Os homens possuem necessidades sociais a satisfazer e, por meio do trabalho, buscam produzir e reproduzir suas vidas sociais através da Educação. O desafio para a profissão é fazer o elo teórico metodológico entre a práxis social e as transformações ocorridas no processo de trabalho humano em uma conjuntura de crise estrutural do processo sociometabólico como aponta Mészáros.[4]
É partindo dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho e influenciadas pela reestruturação produtiva, que também se pode identificar situações de natureza física, psicológica ou social, como um conjunto de reações fisiológicas que se exageradas em intensidade ou duração podem levar também a um desequilíbrio no organismo. Diante do exposto, os rebatimentos da reestruturação produtiva na prática dos docentes se verifica, por exemplo, em uma centralização nacional de currículos; uma educação voltada para os interesses do mercado; o cerceamento da pesquisa; a conformação de elites do saber com os centros de excelência; alterações nas relações de trabalho, o que implica em novas modalidades de contratação e novas metodologias de ensino. Os principais conceitos dessa reforma educacional são: produtividade, eficácia, excelência e eficiência, ou seja, as importações das teorias administrativas e orientações para o campo pedagógico. Segundo Dalila Andrade (2004, p.1132).
O trabalho docente não é definido mais apenas como atividade de sala de aula, ele agora compreende a gestão da escola no que se refere à dedicação dos professores ao planejamento, à elaboração de projetos, à discussão coletiva do currículo e da avaliação.

Ainda segundo a autora, naquele momento (reorganização econômica e política) essas perdas se davam com o livro didático, as propostas curriculares centralizadas, as avaliações externas, todas essas propostas vieram com as reformas educacionais de 1990, justificadas pela necessidade de expandir a escolarização, o que tendia a uma massificação e concomitante sucateamento do ensino. O profissional diante dessa realidade precisa ter amplo conhecimento da sua região, das reais condições do seu alunado e, assim, poder direcionar o currículo da melhor maneira possível para o processo de ensino-aprendizagem) a fim de que o profissional de educação não seja manipulado pelos burocratas governamentais de plantão e, pari passu,saiba enfrentar, coletivamente, as vicissitudes caóticas que o governo pretende impor. Segundo Ghedin[5] (2004; 404)
Não estamos questionando o direito e o desejo dos governos de estabelecer uma direção para a educação no país. O que estamos questionando é o modo como os professores têm sido vistos e tratados na implementação destes planos.

Somente desta forma poderemos identificar e compreender as situações vivenciadas pelos professores em suas relações de trabalho. Assim, nesse processo, desvelam-se as contradições que perpassam a estrutura administrativo-educacional e que, por conseqüência, resvalam na própria prática educacional. Gramsci nos diz que o início da elaboração crítica é a consciência daquilo que se é realmente, isto é, um conhecer-te a ti mesmo, como produto do processo histórico, que até agora se desenvolveu e que deixou em ti mesmo traços acolhidos sem benefício de inventário. É preciso inicialmente fazer este inventário (1974 p.27). Penso que exatamente nesse ponto reside um tempo de engendramento de uma participação engajada, para a construção de uma leitura de educação enquanto formação humana para educandos e educadores.
As práticas educativas, muitas vezes focalizadas na escola, fazem a mediação entre o teórico e o mundo, tendo como partícipes professores, alunos, funcionários e familiares, alicerçados no engajamento, no compromisso, na reflexão, na intencionalidade de mudar. Práticas pedagógicas são tessituras em movimento entre a inclusão e a exclusão, entre a dignidade e a miséria.
Ressalte-se que, para a compreensão da Educação e de seus rebatimentos nas intervenções profissionais dos docentes, é fundamental situá-las nas correlações de forças que caracterizam as relações sociais, daí podermos dizer que a educação está diretamente ligada às relações capital X trabalho.
Sabe-se que a sociedade atual, em sua estrutura produtiva, tem como fundamento o trabalho assalariado sendo, portanto, a categoria trabalho ontologicamente central para o entendimento das relações de produção centradas no capital. Esta sociedade em que grassa o trabalho assalariado tem, no tempo (do século XVI ao XXI), sofrido modificações substantivas no processo de produção. Este é sempre conflitivo e antagônico já que a relação social de produção requer, exige a exploração da força de trabalho.
É necessário compreender que a sociedade em que vivemos é capitalista e, nesse sentido, a distribuição de renda pressupõe a distribuição dos meios de produção e subsistência. Naturalmente que a apropriação privada destes meios determina a compartimentalização da distribuição da renda nacional e, portanto, na crise maior do capital, momento que vivemos, as condições sociais de reprodução da classe trabalhadora, na qual se inclui os docentes, são cada vez mais precárias.
3.    À  Guisa de Conclusão.
A burguesia, através do Estado capitalista, cria, portanto, a subordinação intelectual no sentido desenvolvido por Antonio Gramsci.[6]
No pensamento gramsciano a dominação do capital sobre o trabalho, que resulta na exploração das classes subalternas, é o momento da dominação econômica. Existe também uma dominação político-ideológica que se faz pela repressão (exército, polícia, prisão etc.) e/ou pela dominação ideológica (consenso social que é expresso pela aceitação, pela maioria da população, da direção que a classe dominante dá à sociedade). É através das escolas oficiais estatais e das escolas confessionais que se generaliza a dominação ideológica capitalista.
Para Gramsci, a dominação dos subalternos acontece por dois fatores essenciais: o primeiro é a interiorização da ideologia dominante pelas classes subalternas e o segundo é a ausência de uma visão de mundo coerente e homogênea por parte desta mesma classe. Para romper com esse ciclo alienante seria necessária a criação de uma ideologia proletária (segundo Gramsci) que proporcionaria à classe subalterna uma visão de mundo coerente e homogênea, a qual desencadearia a luta pela criação e desenvolvimento da sociedade democrática.
A burguesia procura monopolizar a instrução popular para evitar que a classe trabalhadora se revolte e lute contra todas as explorações e injustiças sociais a fim de produzir um mundo realmente livre de todas as mazelas criadas pela barbárie neoliberal.
Atualmente esta política conservadora traz consigo a lógica das privatizações, onde o Estado se exime da sua responsabilidade administrativa com as instituições destinadas aos serviços sociais como saúde, educação, assistência e outros na medida em que os privatiza. Dessa forma, parcela ponderável da população resta com serviços precarizados.
Compreender as contradições que se colocam no processo de trabalho docente é fundamental para que se possa desvendar a realidade e, pari passu, auxiliar os professores enquanto classe trabalhadora a se libertar de um trabalho que, no capitalismo, os sufoca, os agride, os mutila já que o trabalho é, neste modo de produção, alienação do homem. Daí, segundo Marx:
O trabalhador só se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho. Sente-se em casa quando não trabalha e quando trabalha não se sente em casa. O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Por conseguinte, não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. [....]. Uma vez pressuposta a propriedade privada, minha individualidade se torna estranhada até tal ponto, que esta atividade se torna odiosa, um suplício e, mais que atividade, aparência dela; por conseqüência, é também uma atividade puramente imposta e o único que me obriga a realizá-la é uma necessidade extrínseca e acidental, não a necessidade interna e necessária. (MARX, K. Apud, LIMA, Carlos. 2000: p. 40).

Finalmente há a necessidade de que o docente intervenha conscientemente no processo histórico-social a fim de sobrestar o processo de alienação imanente à dinâmica capitalista contribuindo, assim, para a superação da lógica neoliberal.

  1. Referências Bibliográficas.
ANTUNES, R. L. C. Adeus ao Trabalho? : Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 7a. ed. ampl. – São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP. 2000.


GHEDIN, Evandro – Implicações das reformas no ensino para a formação de Professores/ Trajetórias e perspectivas da formação de educadores (Org. Barbosa, Raquel Lazzari Leite) SP,UNESP, 2004.


GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. Lisboa: Estampa, 1974. Vol. II.

HARVEY, David. A condição pós-moderna, SP, Ed.Loyola, 1994.

HTTP://www.bresserpereira.org.br/ acessado as 00h51min de 16/05/2008.


LIMA, Carlos e SILVA Jr., João dos Reis. Educação: direito ou mercadoria no âmbito da
      OMC, In, Universidade e Sociedade, nº 33, 2004.
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos, Apud, LIMA, Carlos. Globalização e fala humana no contexto neoliberal, In, Educação: Nave do futuro, PA, Labor Editorial, 2000.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital, SP, Boitempo, 2005.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Educação e Sociedade V.25, Nº89, Set/Dez-2004. SP,Cortez, Campinas, CEDES.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A “nova” direita e as transformações na pedagogia da política e na política da pedagogia, In, Neoliberalismo, qualidade total e educação – visões críticas. Petrópolis, Vozes,1994.

WOLFF, S. Informatização do Trabalho e Reificação: uma análise à luz dos programas e qualidade total, 1998. Dissertação (Mestrado) Campinas: São Paulo. 1998.













[1]A reestruturação produtiva tem sido trabalhada por diversos autores como Antunes (1995,2000); Mattoso (1995), Almeida e Alencar (2001); Harvey (1989), Rifkin (1995), dentre outros.

[2] Por neoliberalismo compreende-se a ideologia inspirada no pensamento do último quartel do século XIX, que tinha como princípio a defesa do individualismo, do naturalismo e do racionalismo, concepções dominantes na época.

[3] Entende-se por reengenharia, um esforço organizado em uma companhia, com o objetivo de rever e, se necessário, reformular completamente seus principais processos de trabalho, de forma a conseguir expressivas melhorias, principalmente, no que diz respeito ao aumento da produtividade, à qualidade dos serviços ou produtos e à eficiência do atendimento ao cliente.

[4] Ver a respeito, MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital, SP, Boitempo, 2005.
[5] GHEDIN, Evandro – Implicações das reformas no ensino para a formação de Professores/ Trajetórias e perspectivas da formação de educadores (Org. Barbosa, Raquel Lazzari Leite) SP,UNESP, 2004.

[6] Subordinação intelectual é um conceito utilizado por este pensador para apresentar a sua visão da dimensão ideológica da dominação de classe na sociedade capitalista.

domingo, 24 de abril de 2011

Serviço Social na Contemporaneidade

Serviço Social na Contemporaneidade
*Paula Fernanda M de Menezes
**Luciano Silva Gomes

Quem melhor do que nossa Ilustríssima Marilda Iamamoto para descrever sobre este tema.
“Pensar o Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifrá-lo e participar da sua recriação. Um grande pensador alemão do século XIX dizia o seguinte:” a crítica não arranca flores imaginárias dos grilhões para que os homens suportem os grilhões sem fantasia e consolo, mas para que se livrem deles e possam brotar as flores vivas”. É esse o sentido da critica : tirar as fantasias que encobrem os grilhões para que se possa livrar deles, libertando os elas que aprisionam o pleno desenvolvimento dos indivíduos sociais. É nessa perspectiva que se inquire a realidade buscando,pelo seu deciframento, o desenvolvimento de um trabalho pautado no zelo pela qualidade dos serviços prestados, na defesa da universalidade dos serviços públicos, na atualização dos compromissos éticos –políticos com os interesses coletivos da população usuária.”


Marilda em seu livro Intitulado “O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional” incita que esta categoria profissional viva no presente, decifre este momento e que seja capaz de proposta criativas, competente em garantir e efetivar os direitos sociais, uma vez que Segundo Lima (2010) “sob a óptica marxista, o capitalismo é o mais revolucionário, transformador modo de produção ate hoje existente. Ele tem que revolucionar, constantemente, as forças produtivas, as relações de produção, os valores, a ética etc.” e é nesse sistema de produção revolucionário que o Assistente Social desenvolve sua prática, ou seja, precisa ser mais e mais revolucionário para fazer valer à luz do projeto ético-político os Direitos sociais.
O Serviço Social enquanto profissão, também de intervenção na realidade social tem sua centralidade nas relações sociais advindas do modo como a sociedade está organizada. Por estar inserido no sistema capitalista, esse processo sócio-produtivo é pautado por contradições metabólicas entre capital e trabalho.
Atualmente o sistema capitalista na sua versão neoliberal, estabelece correlações de forças advindas da exploração, da concentração de rendas e da propriedade privada estabelecendo, portanto a Questão Social e suas expressões atingindo principalmente e de forma diferente os segmentos que vivem do trabalho.
O Serviço Social Contemporâneo deve levar em consideração esta realidade sócio-histórica e responder de forma ético-política às demandas advindas dessa relação, daí a discussão e os debates estabelecidos na profissão estarem pontuados nas seguintes temáticas:
  • Reestruturação Produtiva;
  • Políticas Públicas;
  • Centralidade do Trabalho;
  • Adversidade;
  • Projeto Ético-político;
  • Garantia de Direitos;
  • Responsabilidade Social, dentre outras.

     A compreensão e intervenção nas temáticas acima partem do Serviço Social como prática profissional institucionalizada, portanto, como ação interventiva e reflexiva nas expressões da questão social, sendo essas expressões justificadoras de políticas compensatórias e pouco eficientes na superação de suas causas que são inerentes ao próprio sistema capitalista.
    As respostas interventivas a estas situações estão pautadas em complexas justificações teórico-metodológicas, daí a importância do conhecimento do método e das teorias sociais, não só para referendar a ação, mas fundamentalmente para fortalecer a visão do profissional de homem-mundo e mobilizar o mesmo no sentido de uma maior participação, seja para melhorar a realidade seja de superá-la radicalmente.

* Assistente Social da Previdência Municipal de Ananindeua, Especialista em Filosofia da Educação
**Prof. Dr. Em Serviço Social - UFPA/UNAMA