"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pessoas que nos Inspiram - Entrevista com o poeta Marcos Ana




Exemplo de Resiliência, luta e coragem...

Entrevista retirada do site rebelion



Entrevista com o poeta Marcos Ana 15/10/2012
"Idéias nunca são culpados, se eles são justos, são os instrumentos, os homens, aqueles que cometem erros"

Marcos Ana tem 92 anos, apesar de, como ele diz sempre, estes são anos de idade. A vida tem 69, que são deixados subtraindo o 23 ele passou na prisão. Ele entrou com 19 anos em maio de 1939 e saiu em 1962, com 42. Uma pessoa que tem seguido mais tempo nas prisões como um prisioneiro de consciência. vem de uma família muito humilde. Seus pais eram sem-terra, analfabetos e muito católica. Na verdade, ele mesmo era um adolescente, até que ela participou de um grupo de jovens católicos a uma reunião da Juventude Socialista em Alcalá para espalhar a sua propaganda. Ele estava a ouvir o que ele disse e percebeu que o homem estava falando sobre ele, sua casa e seus problemas. Só juntando e durante a guerra tornou-se o Partido Comunista. Em anos de prisão por escritos de Neruda Alberti e começa a escrever seus próprios poemas. Hoje, Marcos Ana, é um dos poetas mais renomados do país e do exterior. ainda continua a defender as mesmas idéias. Mas, como ele sempre diz: "Nós cometemos muitos erros, mas meu coração ainda está no mesmo lugar."



 http://vimeo.com/51085264

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Entrevista na Integra com Carlos Nelson Coutinho


Entrevista com Carlos Nelson Coutinho, publicada na edição 153 da revista Caros Amigos, que circulou a partir de dezembro de 2009 - confira as edições anteriores na loja Caros Amigos. O intelectual marxista morreu na madrugada desta quinta-feira (20), vítima de câncer.
Participaram Hamilton Octávio de Souza, Marcelo Salles, Renato Pompeu e Tatiana Merlino. Fotos: Coletivo Favela em Foco

“Sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia”

Carlos Nelson Coutinho, um dos intelectuais marxistas mais respeitados do Brasil, recebeu a Caros Amigos em seu apartamento no bairro do Cosme Velho, Rio de Janeiro, para uma conversa sobre os caminhos e descaminhos da esquerda brasileira, sua decepção com o governo Lula e as possibilidades de superação do capitalismo.
Estudioso de Antonio Gramsci, Coutinho defende a atualidade de Marx e reafirma o que disse em seu polêmico artigo “Democracia como valor universal”, publicado há 30 anos: “Sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia”
Hamilton Octávio de Souza - Queremos saber da sua história, onde nasceu, onde foi criado, como optou por esta carreira..
Caros Nelson Coutinho - Nasci na Bahia, em uma cidade do interior chamada Itabuna, mas fui para Salvador muito pequenininho, com uns 3 ou 4 anos. Me formei em Salvador, e as opções que eu fiz, fiz em Salvador. Eu nasci em 1943, glorioso ano da batalha de Stalingrado. Me formei em filosofia na Universidade Federal da Bahia, um péssimo curso, e com meus 18 ou 19 anos sabia mais do que a maioria dos professores. Meus pais eram baianos também. Meu pai era advogado e foi deputado estadual durante três legislaturas da UDN. Publicamente ele não era de esquerda, mas dentro de casa ele tinha uma posição mais aberta. Eu me tornei comunista lendo o Manifesto Comunista que o meu pai tinha na biblioteca. Ele era um homem culto, tinha livros de poesia. Minha irmã, que é mais velha, disse que eu precisava ler o Manifesto Comunista. Foi um deslumbramento. Eu devia ter uns 13 ou 14 anos. Aí fiz faculdade de Direito por dois ano porque era a faculdade onde se fazia política, e eu estava interessado em fazer política. Me dei conta que uma maneira boa de fazer política era me tornando intelectual. Aos 17 anos entrei no Partido Comunista Brasileiro, que naquela época tinha presença. O primeiro ano da faculdade foi até interessante porque tinha teoria geral do Estado, economia política, mas quando entrou o negócio de direito penal, direito civil, aí eu vi que não era a minha e fui fazer filosofia.
Renato Pompeu - Mas quais eram as suas referências intelectuais?

Em primeiro lugar, Marx, evidentemente, mas também foram muito fortes na minha formação intelectual o filósofo húngaro George Lukács e Gramsci. Eu tenho a vaidade de ter sido um dos primeiros a citar Gramsci no Brasil, porque aos 18 anos eu publiquei um artigo sobre ele na revista da faculdade de Direito. Aí eu vim para o Rio e fui trabalhar no Tribunal de Contas. Me apresentei ao João Vieira Filho para trabalhar e ele me falou: “meu filho, vá pra casa e o que você precisar de mim me telefone”. Eu fiquei dois ou três anos aqui sem trabalhar, mas a situação ficou inviável. Pedi demissão e fui, durante um bom tempo, tradutor. Eu ganhava a vida como tradutor, traduzi cerca de 80 ou 90 livros. Em 76, eu fui para a Europa. Passei 3 anos fora, não fui preso, mas senti que ia ser, foi pouco depois da morte do Vlado. Então morei na Europa por três anos, onde acho que aprendi muita política. Morei na Itália na época do florescimento do eurocomunismo, que me marcou muito. O primeiro texto que publiquei é exatamente este artigo da “Democracia como valor universal” que causou, sem modéstia, um certo auê na esquerda brasileira na época. Até hoje há citações de que é um texto reformista, revisionista. Enfim, voltei do exílio e entrei na universidade, na UFRJ, onde eu estou há quase 28 anos. Passei por três partidos políticos na vida. Entrei no PCB, como disse antes, aos 17 anos, onde fiquei até 1982, quando me dei conta que era uma forma política que tinha se esgotado. Nesse momento, surge evidentemente uma coisa que o PC não esperava e não queria, que é um partido realmente operário, no sentido de ter uma base operária. O mal-estar do PCB contra o PT no primeiro momento foi enorme. Eu saí do PCB, mas não entrei logo no PT. Só entrei no PT no final da década de 80, entrei junto com o [Milton] Temer e o Leandro Konder. Fizemos uma longa discussão para ver se entrávamos ou não, e ficamos no PT até o governo Lula, quando nos demos conta que o PT não era mais o PT. Saí e fui um dos fundadores do PSOL, que ainda é um partido em formação. Ele surge num momento bem diferente do momento de formação do PT, de ascensão do movimento social articulado com a ascensão do movimento operário. E o PSOL surge exatamente em um momento de refluxo. Nessa medida, ele é ainda um partido pequeno, cheio de correntes. Eu sou independente, não tenho corrente. Podemos dizer o seguinte: eu tinha um casamento monogâmico com o PCB, com o PT já me permitia traições e no PSOL é uma amizade colorida.
Tatiana Merlino - Em uma entrevista recente o senhor falou sobre o avanço e o triunfo da pequena política sobre a grande política dentro do governo Lula. Você pode falar um pouco sobre isso?

Gramsci faz uma distinção entre o que chama de grande política e pequena política. A grande política toma em questão as estruturas sociais, ou para modificá-las, ou para conservá-las. A pequena política de Gramsci é a política da intriga, do corredor, a intriga parlamentar, não coloca em discussão as grandes questões. Durante algum tempo, o Brasil passou por uma fase de grande política. Se a gente lembrar, por exemplo, a campanha presidencial de 89, sobretudo o segundo turno, tinha duas alternativas claras de sociedade. Não sei se, caso o PT ganhasse, ia cumpri-la, mas, do ponto de vista do discurso, tinha uma alternativa democrático-popular e uma alternativa claramente neoliberal. Até certo momento, no Brasil, nós tivemos uma disputa que Gramsci chamaria de grande política. A partir, porém, sobretudo, da vitória eleitoral de Lula, eu acho que a redução da arena política acaba na pequena política, ou seja, que no fundo não põe em discussão nada estrutural. Eu diria que é a política tipo americana. Obviamente o Obama não é o Bush, mas ninguém tem ilusão de que o Obama vai mudar as estruturas capitalistas dos Estados Unidos, ou propor uma alternativa global de sociedade. Então, o que está acontecendo no Brasil é um pouco isso, dando Dilma ou dando Serra não vai mudar muita coisa não. Até às vezes desconfio que o Serra pode fazer uma política menos conservadora, mas depois vão me acusar de ter aderido a ele. Eu até faço uma brincadeira, dizendo que a política brasileira “americanalhou”, virou essa coisa... Então, neste sentido eu entrei no PSOL até com essa ideia de criar uma proposta realmente alternativa. Infelizmente o PSOL não tem força suficiente para fazer essa proposta chegar ao grande público, mas é uma tentativa modesta de ir contra a pequena política.
Renato Pompeu - Você não acha que esse americanalhamento aconteceu na própria pátria do Gramsci?

Ah, sem dúvida. A predominância da pequena política é uma tendência mundial. Me lembro que logo depois da abertura eu escrevi uns dois ou três artigos em que dizia que o Brasil se tornou uma sociedade complexa. O Gramsci a chamaria de ocidental, que é uma sociedade civil desenvolvida, forte e tal. Mas há dois modelos de sociedade ocidental - um modelo que eu chamava de americano, que é este onde há sindicalismo, mas o sindicalismo não se põe nas estruturas, há um bipartidarismo, mas os partidos são muito parecidos, e o que eu chamava de modelo europeu, onde há disputa de hegemonia. Ou seja, se alguém votava no partido comunista na Itália, sabia que estava votando em uma proposta de outra ordem social. Se alguém votava no Labour Party na Inglaterra durante um bom tempo, pelo menos o programa deles era socialista, de socialização dos meios de produção. E quem votava no partido conservador queria conservar a ordem. O Brasil tinha como alternativa escolher um ou outro modelo. Por exemplo, havia partidos que são do tipo americano, como o PMDB, mas havia partidos que são do tipo europeu, como o PT. Havia um sindicalismo de resultado e um sindicalismo combativo (CUT, por exemplo), mas tudo isso era naquela época. Depois a hegemonia neoliberal, em grande parte, americanalhou a política mundial. A Europa hoje é exatamente isso, são partidos que diferem muito pouco entre si. Há um “americanalhamento”. É um fenômeno universal e é uma prova da hegemonia forte do neoliberalismo.
Tatiana Merlino - Então o avanço da pequena sobre a grande política está sendo mundial?

É um fenômeno mundial, não é um fenômeno brasileiro. Mas veja só, começam a surgir na América Latina formas que tentam romper com este modelo da pequena política. Estou falando claramente de Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, ainda que eu não seja um chavista, até porque eu acho que o modelo que o Chávez tenta aplicar na Venezuela não é válido para o Brasil, que é uma sociedade mais complexa, mais articulada. Mas certamente é uma proposta que rompe com a pequena política. Quando o Chávez fala em socialismo, ele recoloca na ordem do dia, na agenda política, uma questão de estrutura.
Tatiana Merlino - Então é um socialismo novo, do século 21. Que socialismo é esse?

Eu não sei, aí tem que perguntar para o Chávez. Olha, eu não gosto dessa expressão “socialismo do século 21”, eu diria “socialismo no século 21”.
Renato Pompeu - E como seria o socialismo no século 21?

Socialismo não é um ideal ético ao qual tendemos para melhorar a ordem vigente. O socialismo é uma proposta de um novo modo de produção, de uma nova forma de sociabilidade, e nesse sentido eu acho que o socialismo é, mesmo no século 21, uma proposta de superar o capitalismo. Novidades surgiram, por exemplo: quem leu o Manifesto Comunista, como eu, vê que Marx e Engels acertaram em cheio na caracterização do capitalismo. A ideia da globalização capitalista está lá no Manifesto Comunista, o capitalismo cria um mercado mundial, expande e vive através de crises. Essa ideia de que a crise é constitutiva do capitalismo está lá em Marx. Mas há um ponto que nós precisamos rever em Marx, e rever certas afirmações, que é o seguinte: Quem é o sujeito revolucionário? Nós imaginamos construir uma nova ordem social. Naturalmente, para ser construída, tem que ter um sujeito. Para Marx, era a classe operária industrial fabril, e ele supunha, inclusive, que ela se tornaria maioria da sociedade. Acho que isso não aconteceu. O assalariamento se generalizou, hoje praticamente todas as profissões são submetidas à lei do assalariamento, mas não se configurou a criação de uma classe operária majoritária. Pelo contrário, a classe operária tem até diminuído. Então, eu diria que este é um grande desafio dos socialistas hoje. Hoje em dia tem aquele sujeito que trabalha no seu gabinete em casa gerando mais-valia para alguma empresa, tem o operário que continua na linha de montagem.. Será que este cara que trabalha no computador em casa se sente solidário com o operário que trabalha na linha de montagem? Você vê que é um grande desafio. Como congregar todos estes segmentos do mundo do trabalho permitindo que eles construam uma consciência mais ou menos unificada de classe e, portanto, se ponham como uma alternativa real à ordem do capital?
Renato Pompeu - Aí tem o problema dos excluídos...

Eu tenho sempre dito que as condições objetivas do socialismo nunca estiveram tão presentes. Prestem atenção, o Marx, no livro 3 do “Capital”, diz o seguinte: O comunismo implica na ampliação do reino da liberdade e o reino da liberdade é aquele que se situa para além da esfera do trabalho, é o reino do trabalho necessário, é o reino onde os homens explicitarão suas potencialidades, é o reino da práxis criadora. Até meio romanticamente ele chega a dizer no livro “A Ideologia Alemã” que o socialismo é o lugar onde o homem de manhã caça, de tarde pesca e de noite faz crítica literária, está liberto da escravidão da divisão do trabalho. E ele diz que isso só pode ser obtido com a redução da jornada de trabalho. O capitalismo desenvolveu suas forças produtivas a tal ponto que isso se tornou uma possibilidade, a redução da jornada de trabalho, o que eliminaria o problema do desemprego. O cara trabalharia 4 horas por dia, teria emprego para todos os outros. E por que isso não acontece? Porque as relações sociais de produção capitalista não estão interessadas nisso, não estão interessadas em manter o trabalhador com o mesmo salário e uma jornada de trabalho muito menor. Então, eu acho que as condições para que a jornada de trabalho se reduza e, portanto, se crie espaços de liberdade para a ação, para a práxis criadora dos homens, são um fenômeno objetivo real hoje no capitalismo. Mas as condições subjetivas são muito desfavoráveis. A morfologia do mundo do trabalho se modificou muito. Muita gente vive do trabalho com condições muito diferenciadas, o que dificulta a percepção de que eles são membros de uma mesma classe social. Então, esse é um desafio que o socialismo no século 21 deve enfrentar. Um desafio também fundamental é repensar a questão da democracia no socialismo. Eu diria que, em grande parte, o mal chamado “socialismo real” fracassou porque não deu uma resposta adequada à questão da democracia. Eu acho que socialismo não é só socialização dos meios de produção - nos países do socialismo real, na verdade, foi estatização - mas é também socialização do poder político. E nós sabemos que o que aconteceu ali foi uma monopolização do poder político, uma burocratização partidária que levou a um ressecamento da democracia. A meu ver, aquilo foi uma transição bloqueada. Eu acho que os países socialistas não realizaram o comunismo, não realizaram sequer o socialismo e temos que repensar também a relação entre socialismo e democracia. Meu texto, “Democracia como valor universal”, não é um abandono do socialismo. Era apenas uma maneira de repensar o vínculo entre socialismo e democracia. Era um artigo ao mesmo tempo contra a ditadura que ainda existia e contra uma visão “marxista-leninista”, o pseudônimo do stalinismo, que o partido ainda tinha da democracia. Acho que este foi o limite central da renovação do partido.
Marcelo Salles - E nesse “Democracia como valor universal”, você disse recentemente que defende uma coisa que não foi muito bem entendida: socialismo como condição da plena realização da democracia...

Uma alteração que eu faria no velho artigo era colocar não democracia como valor universal, mas democratização como valor universal. Para mim a democracia é um processo, ela não se identifica com as formas institucionais que ela assume em determinados contextos históricos. A democratização é o processo de crescente socialização da política com maior participação na política, e, sobretudo, a socialização do poder político. Então, eu acredito que a plena socialização do poder político, ou seja, da democracia, só pode ocorrer no socialismo, porque numa sociedade capitalista sempre há déficit de cidadania. Em uma sociedade de classes, por mais que sejam universalizados os direitos, o exercício deles é limitado pela condição classista das pessoas. Neste sentido, para a plena realização da democracia, o autogoverno da sociedade só pode ser realizado no socialismo. Então, eu diria que sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia. Acho que as duas coisas devem ser sublinhadas com igual ênfase.
Hamilton Octávio de Souza - Nós saímos de um período de 21 anos de ditadura militar, essa chamada democracia que nós vivemos, qual é o limite? O que impende o avanço mesmo que não se construa uma nova sociedade?

Eu acho que temos uma tendência, que me parece equivocada, de tratar os 21 anos da ditadura como se não houvesse diferenças de etapas. Eu acho, e quem viveu lembra, que, de 64 ao AI-5, era ditadura, era indiscutível, mas ainda havia uma série de possibilidades de luta. Do AI-5 até o final do governo Geisel, foi um período abertamente ditatorial. No governo Figueiredo, há um processo de abertura, um processo de democratização que vai muito além do projeto de abertura da ditadura. Tem um momento que os intelectuais mais orgânicos da ditadura, como o Golbery, por exemplo, percebem que “ou abre ou pipoca”. O projeto de abertura foi então atravessado pelo que eu chamo de processo de abertura da sociedade real. Eu não concordo com o Florestan Fernandes quando ele chama a transição de conservadora. Eu acho que ocorreu ali a interferência de dois processos: um pelo alto, porque é tradicional na história brasileira as transformações serem feitas pelo alto, o que resultou na eleição de Tancredo. Mas também houve a pressão de baixo. A luta pelas “Diretas” foi uma coisa fundamental, também condicionou o que veio depois. Esta contradição se expressa muito claramente na Constituição de 88, que tem partes extremamente avançadas. Todo o capítulo social é extremamente avançado, embora a ordem econômica tenha sido mais ou menos mantida. Mas a Constituição é tanto uma contradição que o que nós vimos foi a ação dos políticos neoliberais, dos governos neoliberais de tentar mudá-la, de extirpar dela aquelas conquistas que nós podemos chamar de democráticas. Eu acho que o Brasil hoje é uma sociedade liberal-democrática no sentido de que tem instituições, voto, partidos e tal. Mas, evidentemente, é uma democracia limitada, sobretudo no sentido substantivo. A desigualdade permanece.
Hamilton Octávio de Souza - Mas hoje o que está mais estrangulado para o avanço na democracia ainda no marco de uma sociedade capitalista?

Eu acho que a ditadura reprimiu a esquerda, nos torturou, assassinou muitos de nós, nos obrigou ao exílio, mas não nos desmoralizou. Eu acho que a chegada do Lula ao governo foi muito nociva para a esquerda. Ninguém esperava que o governo Lula fosse empreender por decreto o socialismo, mas pelo menos um reformismo forte, né? Eu acho que a decepção que isso provocou, mais toda a história do mensalão e tal, é um dos fatores que limitam o processo de aprofundamento da democracia no Brasil. Entre outras coisas porque o governo Lula, que é um governo de centro, cooptou os movimentos sociais. Temos a honrosa exceção do MST que não é assim tão exceção porque eles são obrigados... tem cesta básica nos assentamentos e tal, eles são obrigados também a fazer algumas concessões, mas a CUT... Qual a diferença da CUT e da Força Sindical? Eu acho que essa transformação da política brasileira em pequena política, que se materializou com o governo Lula, que não é diferente do governo Fernando Henrique, foi o fator que bloqueou o avanço democrático. Até 2002, havia um acúmulo de forças da sociedade brasileira que apontava para o aprofundamento da democratização, e o sujeito deste processo era o PT, o movimento social. Na medida em que isso se frustrou, eu acho que houve um bloqueio no avanço democrático na época. O neoliberalismo enraizou-se muito mais fortemente na Argentina do que no Brasil porque aqui havia uma resistência do PT e dos movimentos sociais. Com a chegada ao governo, essa resistência desapareceu. Então, de certo modo, é mais fácil a classe dominante hoje fazer passar sua política em um governo petista do que em um governo onde o PT era oposição.
Tatiana Merlino - Então a conjuntura seria um pouco menos adversa se estivesse o José Serra no poder e o PT como oposição?

Eu não gostaria de dizer isso, mas eu acho que sim. Mas isso coloca uma questão: e se demorasse mais quatro anos para o PT chegar ao governo, ia modificar estruturalmente o que aconteceu com o PT? Até um certo momento, é clara no partido uma concepção socialista da política. A partir de um certo momento, porém, antes de Lula ir ao governo, o PT abandonou posturas mais combativas. Ele fez isso para chegar ao governo. Mas se demorasse mais quatro anos, ou oito anos, não aconteceria o mesmo? Não sei. Não quero ser pessimista também, não era fatal o que aconteceu com o PT.
Renato Pompeu - Você é professor de qual disciplina?

De teoria política.
Renato Pompeu - Você é um cientista político ou um filósofo da política?

Não, não. Filósofo tudo bem, mas cientista político não. Porque ciência política para mim é aquela coisa que os americanos fazem, ou seja, pesquisa de opinião, sistema partidário, a ciência política é a teoria da pequena política. Eu sou professor da escola de Serviço Social.
Hamilton Octávio de Souza - Que projeto que você identifica hoje no panorama brasileiro: a burguesia nacional tem um projeto? As correntes de esquerda têm um projeto? Existe um projeto de nação hoje?


Isso é um conceito interessante, porque este é um conceito criado em grande parte pela Internacional Comunista e pelo PCB, de que haveria uma burguesia nacional oposta ao imperialismo. Eu me lembro quando eu entrei no partido, eu era meio esquerdista e vivia perguntando ao secretário-geral do partido na Bahia: Quem são os membros da burguesia nacional? E um dia ele me respondeu: “José Ermírio de Moraes e Fernando Gasparian”. Olha, duas pessoas não fazem uma classe. Do ponto de vista nosso, da esquerda, uma das razões da crise do socialismo, das dificuldades que vive o socialismo hoje, é a falta de um projeto. A social-democracia já abandonou o socialismo há muito tempo, e nos partidos de esquerda antagonistas ao capitalismo há uma dificuldade de formulação de um projeto exequível de socialismo. Na maioria dos casos, estes partidos defendem a permanência do Estado do bem-estar social que está sendo desconstruído pelo liberalismo. É uma estratégia defensivista. Essa é outra condição subjetiva que falta, a formulação clara de um projeto socialista. Do ponto de vista das classes dominantes, eu acho que eles têm um projeto que estava claro até o momento da crise do neoliberalismo. Foi o que marcou o governo Collor e o governo Fernando Henrique e o que está marcando também o governo Lula, com variações. Evidentemente, há diferenças, embora a meu ver, não estruturais. Esse é o projeto da burguesia. Com a crise, eu acho que algumas coisas foram alteradas, então, uma certa dose de keynesianismo se tornou inevitável, mas sempre em favor do capital e nunca em favor da classe trabalhadora. Tenho um amigo que diz. “Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para o capital”. No fundo, é essa a proposta do neoliberalismo: desconstrução de direitos, concessão total de todas as relações sociais ao mercado, subordinação do público ao privado, ao capital internacional. Não há burguesia anti-imperialista no Brasil, definitivamente. Pode haver um burguês que briga com o seu concorrente e o seu concorrente é um estrangeiro, mas nem assim ele vai ser anti-imperialista.

Hamilton Octávio de Souza - Você vê alguma alteração a curto prazo?


O que poderia mudar isso seria um fortalecimento dos movimentos sociais, da sociedade civil organizada sob a hegemonia da esquerda. E pressionar para que reformas fossem feitas e se retomasse uma política econômica mais voltada para as classes populares. Tem um mote de Gramsci que eu acho muito válido, que é: “pessimismo da inteligência e otimismo da vontade”. A esquerda não pode ser otimista numa análise do que está acontecendo no mundo porque a esquerda tem perdido sucessivas batalhas. Então ser otimista frente a um quadro desses é difícil. Quanto mais nós somos pessimistas, mais otimismo da vontade temos de ter, mais a gente deve ter clareza que só atuando, só dedicando todo o nosso empenho à mudança disso é que essa coisa pode ser mudada. Então, a esperança de mudança seguramente há, há potencialidades escondidas na atual sociedade que permitem ver e pensar a superação do capitalismo. O capital não pode perdurar. A alternativa ao socialismo, como dizia a Rosa Luxemburgo, é a barbárie. Se o capitalismo continuar, teremos cada vez mais uma barbarização da sociedade que nós já estamos assistindo.

Hamilton Octávio de Souza - Por conta do neoliberalismo, tivemos um aumento do desemprego estrutural, a informalidade do trabalho, o desrespeito à legislação trabalhista, estamos numa condição de perdas de conquistas, direitos. Como é que se explica a fraqueza do movimento social diante disso?


A certeza que nós temos de que o capitalismo não vai resolver os problemas nem do mundo nem do Brasil nos faz acreditar que, primeiro, a história não acabou, e, portanto, ela está se movendo no sentido de contestar a independência barbarizante do capital. Onde eu vejo focos, no Brasil de hoje, é no MST. Uma coisa que funciona muito bem no MST é a preocupação deles com a formação dos quadros. Eu fui de um partido, o PCB, que tinha curso, mas as pessoas iam para Moscou, faziam a escola do partido. O PT nunca se preocupou com formação de quadros, não tinham escolas, e o MST tem. Eu acho que o MST tem uma ambiguidade de fundo que é complicada. Ele é um movimento social e, como todo movimento social, ele é particularista, defende o interesse dos trabalhadores que querem terra. Essa não pode ser uma demanda generalizada da sociedade. Eu não quero um pequeno pedaço de terra, nem você. O partido político é quem universaliza as demandas, formula uma proposta de sociedade que engloba as demandas dos camponeses, proletários, das mulheres... O MST tem uma ambiguidade porque ele é um movimento que frequentemente atua como partido. Eu acho que isso às vezes limita a ação do MST.

Marcelo Salles - O termo “Ditadura do Proletariado” que vez ou outra algum liberal usa...
Na época de Marx, ditadura não tinha o sentido de despotismo que passou a ter depois. Ditadura é um instituto do direito romano clássico que estabelecia que, quando havia uma crise social, o Senado nomeava um ditador, que era um sujeito que tinha poderes ilimitados durante um curto período de tempo. Resolvida a crise social, voltava a forma não ditatorial de governo. Então, quando o Marx fala isso, ele insiste muito que é um período transitório: a ditadura vai levar ao comunismo, que para ele é uma sociedade sem Estado. Ele se refere a um regime que tem parlamento, que o parlamento é periodicamente reeleito, e que há a revogabilidade de mandato. Então, essa expressão foi muito utilizada impropriamente tanto por marxistas quanto por antimarxistas. Apesar de que em Lênin eu acho que a ditadura do proletariado assume alguns traços meio preocupantes. Em uma polêmica com o Kautsky, ele diz: ditadura é o regime acima de qualquer lei. Lênin não era Stálin, mas uma afirmação desta abriu caminho para que Stálin exercesse o poder autocrático, fora de qualquer regra do jogo, acima da lei. Tinha lei, tinha uma Constituição que era extremamente democrática, só que não valia nada.
Marcelo Salles - Estão sempre dizendo que não teria liberdade de expressão no socialismo, porque o Estado seria muito forte, e teria o partido único...


Em primeiro lugar, não é necessário que no socialismo haja partido único, e não é desejável, até porque, poucas pessoas sabem, mas no início da revolução bolchevique o primeiro governo era bipartidário. Era o partido bolchevique e o partido social-revolucionário de esquerda. Depois, eles brigaram e ficou um partido só. Mas não é necessário que haja monopartidarismo. Segundo, Rosa Luxemburgo, marxista, comunista, que apoiou a revolução bolchevique, dizia o seguinte: liberdade de pensamento é a liberdade de quem pensa diferente de nós. Então, não há na tradição marxista a ideia de que não haja liberdade de expressão, mas uma coisa é liberdade de expressão e outra coisa é o monopólio da expressão. Liberdade de expressão sim, contanto que não seja uma falsa liberdade de expressão. Eu acho que o socialismo é condição de uma assertiva liberdade de expressão.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Paulo Freire: "Nós podemos reinventar o mundo"

Entrevista com Paulo Freire.
Em entrevista exclusiva, realizada em 1993, o maior educador brasileiro fala sobre a importância da esperança para as transformações e conta o que faria se estivesse em sala de aula

terça-feira, 24 de julho de 2012

Eu Canto a Mulher Sofrida - Artur da Tavola

Eu Canto a Mulher Sofrida
sofrida é mulher por quem a vida passou machucando uma sensibilidade menina, feita de dádiva, confiança no próximo, esperança de melhorar o mundo.
Sofrida é a mulher que não viveu em vão, na delicia burguesa de ser objeto de sexo, admiração fácil ou mimo, preferindo o caminho penoso da independência, a procura honrada da própria dimensão pessoal, existencial, política.
Sofrida não é a pessoa derrotada ou apenas sofrente, fonte de dores e masoquismo sem fim: sofrida é a pessoa que tem energia e nervos para enfrentar na carne todas as disposições e contradições necessárias a viver e a conquistar o direito à vida, à liberdade, à solidão, ao afeto dos seus.
Sofrida é a pessoa que olha ao seu lado a miséria social e humana e não fica impassível ou indiferente, apenas porque se supõe livre de idêntico perigo.
Sofrida é a mulher de uma geração que assistiu à castração de seu sonho político, embora o veja crescendo, melhorando e se transformando pelo mundo a fora.
Sofrida é a mulher que viveu varias décadas em cada uma das três ultimas. É a pessoa que soube incorporar ao seu viver todas as dores necessárias à libertação: dos preconceitos próprios e alheios; dos atrasos ancestrais; da dor de viver adiante no tempo; das agressões retrógradas; das maldades profissionais; do medo da sua mensagem renovadora.
Sofrida é a mulher que teve restrições na sua carreira, ameaças, invasões do seu espaço vital por causa das suas idéias; por causa da sua capacidade de viver com intensidade tudo aquilo em que estava crendo do fundo de sua sincera convicção.
Sofrida é a mulher que assistiu à queda de muitos, ao cansaço de outros, à morte de terceiros, à dor, à tortura, ao vicio, à desistência à loucura, à resistência,à tenacidade, ou a convicção de todos os que se insurgiram contra qualquer forma de agressão humana, de opressão ou de injustiça.
Sofrida é a mulher que aí está, cada vez melhor porque de costas erguidas a despeito de tudo o que viu. Sofreu e passou.
Sofrida é a mulher que não desistiu de Ser; que não se alienou; que não fugiu da dor; que se embelezou com as rugas conseguidas; que se purificou com as impurezas que em si descobriu; que mergulhou com igual coragem na própria miséria e na própria grandeza, saindo melhor de ambas.
Artur da Távola – Cada um no meu lugar, 1980


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pensar e Transgredir - Lya Luft

Pensar 'e o que a vida nos ensina em passos lentos, sabe aquele sentimento cantado por Roberto Carlos em "Traumas'' - sentimentos que a gente so sente depois de "crescer". Depois de tantas fantasias, preciso mesmo 'e pensar, e que bom que so depois de crescer...,que bom que papai tambem soube mentir..., e que bom que so agora os anjos comecam  a partir...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Na carona da Ética: caso Demostenes.

Essa gente que fala o tempo todo contra a corrupção está apenas cuspindo no prato em que não comeu. Millôr Fernandes.

 Será penso eu? “quando João fala muito de Pedro, João não fala de Pedro fala de João” (Comentário de Paula Menezes)


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Comentario Ambiental sobre a RIO+20

Um Comentário que particularmente gostei, sei que e so uma parte do muito que se discutiu no Rio+20, acredito que para se discutir seriamente, com vontade e pra valer sobre as questões ambientais a muito que se avançar... será necessário  + 100 anos de muito  investimento educacional para se pensar numa mudança de consciência, de produção e de consumo. Infelizmente essa problemática e o assunto “ESPETACULO” do momento e espetáculo só da platéia.

Entrevista Retirada do site Carta Capital - Coluna Internacional
RIO+20: Falência da diplomacia, fraqueza da democracia
Por Pierre Calame
Deixamos o Rio de Janeiro com o terrível mal estar de um planeta ferido. Foram mobilizadas dezenas de milhares de pessoas e quase uma centena de chefes de Estado para adotar um texto de 50 páginas do tipo “pegar ou largar”, que balbucia engajamentos já assumidos há muito tempo, porém não mantidos! Em todos os sentidos do termo, a missa foi rezada. Mas está fora de questão assumir nossas interdependências! Não pode haver direito de fiscalização de um Estado pelo outro! Cada um é dono de seu próprio nariz! E a participação da sociedade civil? Depois de meses tentando, sem sucesso, inserir propostas no texto oficial, o “stakeholder forum”, que representa diversos atores atuantes na ONU, denunciou publicamente o baile de máscaras.
A União Europeia, pressionada a aceitar o texto apresentado pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores, se rendeu após disparar alguns tiros ao ar por orgulho. Rendeu-se, sim, mas atenção: permaneceu unida! Consenso. Todos estavam de acordo.
Os especialistas em negociação internacional introduziram no texto alguns avanços: algumas palavras suplementares sobre a governança integrada dos oceanos, um fórum de atores que se transformará em um fórum de alto nível, algumas promessas vagas sobre o reforço do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o engajamento para elaborar objetivos relacionados ao desenvolvimento. O negociador brasileiro compartilhou a seguinte confidência comovente: nós recuamos menos do que temíamos recuar! Ou seja, não se trata mais de um engajamento para a grande transição. Estamos em uma Batalha de Verdun.
A declaração multiplica os chamados às coletividades territoriais. Excelente! Mas, neste contexto, foi mais uma constatação de falência: os Estados, incapazes de conduzir uma mudança urgente, devolvem a chave da cidade planetária. A Rio+20 foi a comprovação da falência de uma ordem mundial intergovernamental reduzida à diplomacia: a presidenta brasileira orientou seu ministro das Relações Exteriores a conduzir as negociações com outros ministros das Relações Exteriores. Não eram ministros de assuntos mundiais ou de assuntos comuns planetários! Somos “nós” enfrentando o “resto do mundo”. O planeta não é uma questão a ser discutida, mas um campo de batalha de vontades de poder.
Será, então, que os “interesses nacionais” existem de fato em essência ou não seriam eles construídos em função desta instituição chamada Estado nação? Seriam eles diferentes em relação a todos os outros? Evidentemente não. A própria maneira de organizar o diálogo internacional predetermina o resultado. Não existe, em nível mundial, nenhum organismo encarregado de “falar do interesse geral” como é o caso da Comissão Europeia, que fala pela Europa. O projeto de declaração foi apenas o fruto de uma síntese de propostas nacionais. Resultado: a produção de uma reafirmação, página após página, da soberania nacional e um catálogo de boas intenções, cuja prática dependerá de engajamentos voluntários.
Outro modo de negociação, por exemplo, por meio de uma assembleia mundial de cidadãos a representar diferentes forças sociais e encarregada de elaborar propostas sujeitas à deliberação dos Estados, traria um resultado muito diferente. A contradição entre o nível de nossas interdependências e o modo de gestão baseado no mercado se tornou explosiva. Em vinte anos, os equilíbrios dos quais nossa sobrevivência depende não pararam de se degradar. Nossa governança mundial se tornou o mais grave de todos os riscos para a sobrevivência da humanidade. Ocorreu no Rio de Janeiro uma Munique ecológica mundial: os chefes de Estado retornaram às suas casas, aliviados pelo consenso encontrado. Mas quantos ainda terão que resmungar “que imbecis”, como fez Daladier ao voltar do Acordo de Munique feito com Hitler, quando foi aclamado pelo povo, diante do resultado obtido?*
E agora? Será preciso tomar iniciativas que desagradam. Avançar com aqueles que quiserem avançar. Abandonar a ideia de que um comércio mundial livre e sem condicionantes sociais e ambientais vai garantir a paz. Se alguma paz houver, será como aquela de Munique, uma paz que prepara a futura guerra. Comecemos por admitir que todos os atores, sejam públicos ou privados, devem prestar contas para a comunidade mundial do impacto de seus atos, uma vez que este impacto ultrapassa as fronteiras nacionais, e construamos, sobre esse princípio, um direito internacional. Coloquemos em prática um comércio internacional baseado em cadeias de produção e consumo sustentáveis e iniciemos um debate internacional sobre o novo modelo de economia. A União Europeia, apresentada atualmente como o corpo doente da globalização, é a única que vem inventando a maneira de se unir mantendo o respeito às diferenças e que tem aprendido a superar de modo pacífico seus egoísmos nacionais. Cabe a ela tomar a palavra e, feita a reflexão, recusar uma Munique ecológica mundial. E a França se orgulhará de desempenhar um papel de protagonista neste processo.
Pierre Calame é presidente da Fundação Charles Mayer para o Progresso do Homem, com sede na França.

Um poema pra tornar mais suave essa problemática tão seria...
Poema Retirado da Internet.
ECOLOGIA - Meio Ambiente

Desde o início, tudo mudou
O meio ambiente, já se transformou,
Tapamos nossos olhos, para não ver
Tudo que está acontecendo

Não queremos perceber
Animais famintos, outros extintos
As florestas mudaram
Muitas árvores derrubaram.

O povo consumista, não quer saber
A natureza pede ajuda,
Sem ninguém pra socorrer

A mata está sufocada
As pessoas ficam caladas
Fábricas, fumaças...
Dinheiro sujo, só desgraça.

Temos que agir,
O mundo vai cair
Talvez caia em cima de nós
E ninguém escutará nossa voz.

de Caroline M. CostaDuque de Caxias - RJ - por correio eletrônico

Video com Ricardo Antunes - para complementar a postagem anterior
" O Fortalecimento do Capitalismo e a precariedade no Mundo do Trabalho"

 





quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Fortalecimento do capitalismo e a fragilidade no mundo do trabalho

          Muitas coisas vieram pra ficar...o capitalismo tambem, juntamente com suas mazelas...
           As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, essas novas formas de organização da produção, trouxe aos trabalhadores do setor terciário condições material e psicologicamente precárias, bem como o desenvolvimento de várias atividades e a ampliação da jornada de trabalho.
Foi a partir dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho norteadas pela reestruturação produtiva, que se reproduziu novas formas de alienação da classe trabalhadora, seja ela de natureza física, psicológica ou social, como composta por um conjunto de reações fisiológicas que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo psico-físico-social.
A reestruturação produtiva é compreendida como sendo um fenômeno ligado à globalização, onde as empresas para obterem maior competitividade a nível global se reestruturaram, caracterizando-se por dois elementos: Inovação tecnológica[1] e Inovação organizacional[2]. A reestruturação produtiva veio com a chamada "Terceira Revolução Industrial" que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Ela se apresentou como oposição ao modelo Fordista-Taylorista de produção e começou a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 1970.
Segundo Pinto (2007) o modelo Fordista-Taylorista surgiu na empresa FORD a partir de 1913 e teve como base tecnológica a 2ª revolução industrial, que se caracteriza pelo uso da Eletricidade, aço, eletromecânica, motor a explosão, petróleo, petroquímica etc. O equilíbrio dessa articulação manteve-se ate meados dos anos 1970, quando sofreu o impacto de transformações de varias ordens, em especial a crise do petróleo. Favorecendo assim o advento do Toyotismo, foi acompanhado das seguintes fases: a introdução na indústria automobilística japonesa, da experiência do ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas; a necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores; a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban[3]; e a expansão desse mesmo método para as empresas subcontratadas e fornecedoras.
Segundo Alves e Antunes (2004), o mundo do trabalho atualmente tem recusado os trabalhadores herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializada, que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era toyotista. Sendo assim o que muda é a forma de implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo /fordismo, ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operaria de modo integral.
Ainda com de acordo com Alves e Antunes (2004), todos esses processos e mudanças no mundo do trabalho culminou, naquilo que denominam de, “alienação/estranhamento” que é ainda mais intensa nos estratos precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário, e precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade. Ainda concordando com Alves e Antunes são nos estratos mais penalizado pela precarização/exclusão do trabalho, que o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência e se manifestam hoje, intensamente, em tantas partes do mundo e, particularmente, na América Latina.
É sob a condição da separação absoluta do trabalho, que a alienação assume a forma de perda de sua própria unidade: trabalho e lazer, meios e fins, vida pública e vida privada, entre outras formas de disjunção dos elementos de unidade presentes na sociedade do trabalho. Expandem-se, desse modo, as formas de alienação dos que se encontram à margem do processo de trabalho.
Contrariamente à interpretação que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o aprofundamento das contradições do capital.
Quanto mais o sistema tecnológico da automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende em direção a limites absolutos. Quando se pensa na enorme massa de trabalhadores desempregados, as formas de absolutização da alienação são diferenciadas. Variam da rejeição da vida social, do isolamento, da apatia e do silêncio (da maioria) até a violência e agressão diretas.
O relacionamento entre pessoas e organizações é considerado antagônico e conflitante. Acredita-se que os objetivos das organizações: lucro, produtividade, eficácia, redução de custos, entre outros, são incompatíveis com os objetivos dos trabalhadores que por sua vez almejam melhores salários, lazer, segurança no trabalho, desenvolvimento e progresso social.
Atualmente, a lógica empresarial encontra-se na era Antropocêntrica, onde toda a centralidade está no homem, na pessoa. As pessoas passam a compor o elemento básico do sucesso empresarial. Em vez de investirem diretamente só nos consumidores potenciais, na estrutura física, passam com essa lógica a investir em quem atende em quem cria etc., criando pessoas com visão estratégica, poder de negociação, espírito de liderança, proativo, que saiba trabalhar em equipe, mas à luz da crítica dialética, estes sujeitos nada mais são, que trabalhadores alienados em seu processo de trabalho.
Há quem faça severas críticas a esse modelo pós-moderno de administrar, uma vez que este não trabalha a igualdade, a coletividade, a repartição dos lucros, esse modelo escamoteia a realidade da exploração, agora de forma menos sentida, logo, menos sofrida. Segundo Seligmann (1994) é uma forma de controle sofisticado onde:
As instrumentações de dominação que se fazem através da desinformação, da utilização de sentimentos e da estimulação do orgulho pelo trabalho bem feito são algumas das técnicas adotadas pelo poder que recebem fortalecimento considerável da disciplinação, favorecendo a eficácia da mesma, preparando o terreno para garantir a aceitação das exigências disciplinares. Desta forma, assegura-se também que os “corpos dóceis”, de que nos fala Foucault, se tornem ainda mais dóceis. (1994: 97-98).
Atualmente o mundo do capital se encontra em crise e, nesse sentido, o terciário não mais se constitui em solução provisória para o desenvolvimento capitalista. Então, o problema que transparece é o de que, nesse momento de crise, em que variados processos e procedimentos de precarização do trabalho estão sendo postos em prática, os trabalhadores estão perdendo seus empregos, ganhando menos, perdendo saúde e tendo aumentadas as tensões no seu dia-a-dia sem as mínimas garantias de sua reprodução futura.
Com essas exemplificações pretendo agregar na pesquisa a tese que defende Antunes e Alves (2004) que não há o fim do trabalho e sim uma reorganização nesse mesmo mundo e consequentemente também a classe trabalhadora se organiza conforme se organiza o trabalho, sendo assim a classe trabalhadora hoje é compreendida pela totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho classe-que-vive-do-trabalho, despossuídos dos meios de produção.
Paula Menezes - Trecho retirado da Justificativa do Projeto para Mestrado.



[1]Base microeletrônica (chips). Exemplos: computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing; o desenho e produção industrial com auxílio de computadores, etc. (Coletânea diversas)
[2]Terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, os Círculo de Controle de Qualidade - CCQ, a qualidade total, etc. (Coletânea diversas)
[3]PINTO, G. Augusto (2009, p.79) Kanban um sistema de informações e transporte interno, com informação e quantidade necessária de peças e materiais encomendados por cada posto de trabalho.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Refletindo o Mundo - O Poder destruidor do Capitalismo e seus produtos destrutivos.



Muitas Noticias me incomodam, umas mais que outras.
Essa do Jornal Nacional que esteve no ar dia 22 de Maio de 2012Empresa americana lança primeiro foguete rumo à Estação Espacial Internacional e fico cá com meus botões... Que contribuição social esse tipo de investimento proporciona a sociedade? Quantos bilhões investidos no espaço!? Bilhões esses que seria muito bem aceitos nos programas de combate a pobreza e a miséria mundial. Os Astronautas que me desculpem mais é estarrecedor querer diminuir a distancia Terra-Espaço, querer saber o que se passa no espaço sideral se nem ao menos conseguimos diminuir as nossas distâncias sociais.


E a do dia 23 de Maio de 2012 “Irã e potencias mundiais discutem programa nuclear” Segundo a reportagem o programa se encontra em estagio avançado com capacidade para a produção de armamento bélico e o Irã insiste em relatar que o programa tem fins pacíficos. Como pensar na fabricação de armamento bélico para fins pacíficos? Sabemos ha muito nas entrelinhas dessa iniciativa, será para o futuro um poder de barganha por parte do Irã? Não sei. Apenas questiono mais uma vez, o que a Sociedade/Mundo ganha com essas produções destrutivas?

Essas reportagens me fizeram relembrar, repensar e reler uma parte do escrito (discurso) do Ex- Senador Lauro Campos de 03/08/2000. Sobre não meios de produção, produtos destrutivos.  
Continuo meu pronunciamento, mesmo sabendo que não terei tempo nem para começar a falar. Os economistas neoliberais definem um bem econômico como sendo algo útil, escasso e disponível. Alguns chamam de mercadoria, eles chamam de bem econômico. E ao total de bens e serviços produzidos numa economia nacional durante um ano chamam de PIB, o Produto Interno Bruto do País. Pois bem, útil a produção bélica não é, útil não é a produção espacial, que tira fotografias bonitas, ou fotografias do planeta Azul ou Marte ou de uma outra perspectiva sideral qualquer, que custam à coletividade mundial às vezes duzentos milhões de dólares. Foi isso que essa humanidade gastou, essa humanidade que sofre, que paralisou o emprego de quase 1 bilhão de seres humanos, que matou, só nas duas Guerras Mundiais – houve 344 guerras entre 1740  e 1974  - 85 milhões de seres humanos. Foram bens que se somaram ao PIB dos países produtores desses produtos bélicos, desses produtos destrutivos. Será que a humanidade não consegue uma organização social, econômica e política que permita aos homens empregar o seu trabalho, a sua inquietude, transformar a sua energia e a sua inteligência em algo que sirva, que não seja uma bomba, que não seja uma arma, que não seja um instrumento de destruição e de paralisação do próximo?
QUE FIQUE A REFLEXÃO E VENHA A CONTRIBUIÇÃO!




segunda-feira, 21 de maio de 2012

ENSAIANDO CONCEITOS


CONCEITO DE ALIENAÇÃO

          Etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a um outro”.  Assim, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu.

Para Karl Marx, a origem da alienação está na divisão social do trabalho, que faz com que o produto do trabalho humano deixe de pertencer ao trabalhador e passe a pertencer a outrem.

FETICHISMO DA MERCADORIA E REIFICAÇÃO DO TRABALHADOR

          O fetichismo é o processo pelo qual a mercadoria, ser inanimado, é considerada como se tivesse vida, fazendo com que os valores de troca se tornem superiores aos valores de uso e determinem as relações entre os homens, e não vice-versa. A mercadoria adquire valor superior ao homem, pois privilegiam-se as relações materiais entre pessoas. Em consequência, a humanização da mercadoria leva à desumanização do homem, à sua coisificação, à reificação (do latim res, coisa), sendo o próprio homem transformado em mercadoria.

O CONCEITO DE TRABALHO EM KARL MARX

Para Marx, o trabalho é sempre uma atividade consciente e livre.

Diferentemente dos animais que realizam uma atividade meramente instintiva, visando a manutenção de sua existência física, o ser humano somente trabalho quando tem sua existência física garantida, ou seja, quando tem suas necessidades biológicas satisfeitas.  Assim, por meio do trabalho, o ser humano objetifica (concretiza) sua consciência subjetiva. 

TRABALHO PARA MARX É:           

·         Atividade consciente e livre

·         Não visa a satisfação de  necessidades físicas;

·         É a exteriorização das necessidades espirituais do  humano;

·         O ser humano objetifica a sua consciência;

·          o ser humano transforma a natureza e também se  transforma;

·          a criação do mundo da  cultura.

Para Marx, o trabalho humano não tem como objetivo a manutenção da vida física. O ser humano deve ter assegurada sua sobrevivência material para poder trabalhar livre e conscientemente.


No Capitalismo, para o homem suprir suas necessidades materias precisa trabalhar, e esse trabalho por necessidade configura-se Alienado (trabalho alienado), dessa forma as necessidades materiais devem ser asseguradas para que o ser humano possa realmente trabalhar de forma livre e consciente. Trabalho no capitalismo é trabalho forçado.