"...aprendi que aprender é conscientizar-se e que o desenvolvimento de nossa consciência social é o acréscimo de esperanças angustiantes, que o prazer do aprendizado se mescla com a dureza de uma realidade social triste e desesperada que se incorpora e constroi a consciência do mundo e da vida..." ( Ex-Senador Lauro Campos)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Trabalho: Valor e des (valor)

Trabalho: Valor e des (valor)
Alguns ensaios sobre o tema.


A palavra trabalho deriva do verbo trabalhar, originário do vocábulo romântico tripaliare. Este, por sua vez, vem do latim tripalium, nome de um antigo e terrível instrumento de tortura, castigo, que se dava aos escravos e, historicamente, o trabalho foi considerado como uma atividade depreciável. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre. A escravidão foi considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural e mais adequada de relação laboral. A ética protestante vem atribuir um valor positivo ao trabalho, considerando-o não como punição mas como oferenda a Deus. A partir de meados do século XIX, servidão, em suas várias formas, fora extinta na maior parte dos países ocidentais, sendo substituída pelo trabalho assalariado, socialmente valorizado. Feitas essas considerações, poderíamos concluir que essa definição dá ao trabalho uma conotação dual, seu valor e desvalor.
Na sociedade contemporânea não há como negar a relação capital/trabalho. Os homens possuem necessidades sociais a satisfazer e, por meio do trabalho, buscam produzir e reproduzir suas vidas sociais. É quase impossível imaginar a vida sem o exercício constante de aperfeiçoamento do homem e suas extensões. Mais do que uma atividade cotidiana que proporciona sobrevivência das pessoas, trabalho deveria ser antes de tudo, um instrumento de crescimento, uma ferramenta que permitisse abrir as portas para os sonhos, desejos e ideais.
O trabalho no capitalismo se torna estranhado, uma vez que, se manifesta predominantemente como criador de valor de troca, ocorrendo aí não apenas o fetichismo da mercadoria, mas também, em conseqüência o estranhamento das relações humanas, uma vez que não somente os produtos do trabalho tornam-se mercadoria, mas também o próprio trabalhador torna-se mercadoria, o que o mutila em sua vida genérica. Ocorre aqui uma relação invertida: ao transformar a natureza com a predominância do trabalho como criador de valor de troca, o homem se aliena, se estranha a si e na relação com o outro; resultando em sua degradação e desvalorização enquanto ser humano.
Na contemporaneidade, a exploração é encontrada de forma escamoteada, porém viva. O trabalhador em geral, mas, em especial o da empresa privada, continua mal pago pela remuneração completamente insuficiente para sua reprodução social, pela carga horária, pelas condições insatisfatórias de trabalho, etc. Além do mais, esse trabalhador embora amparado pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas – sofre exploração sutil dessa nova organização do trabalho. Resquícios das formas de produção taylorista-fordista e, agora, toyotista.
Compreender as contradições que se colocam no processo de trabalho é, a nosso juízo, fundamental para que se possa desvendar a realidade e, pari passu, auxiliar a classe trabalhadora a se libertar de um trabalho que, no capitalismo, a sufoca, a agride, a mutila já que o trabalho é, neste modo de produção, alienação do homem. Daí, segundo Marx:
O trabalhador só se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho. Sente-se em casa quando não trabalha e quando trabalha não se sente em casa. O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Por conseguinte, não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. [....]. Uma vez pressuposta a propriedade privada, minha individualidade se torna estranhada até tal ponto, que esta atividade se torna odiosa, um suplício e, mais que atividade, aparência dela; por conseqüência, é também uma atividade puramente imposta e o único que me obriga a realizá-la é uma necessidade extrínseca e acidental, não a necessidade interna e necessária. (MARX, K. Apud, LIMA, Carlos. 2000: p. 40

Valor e (des) valor
Valor quando traduzimos o trabalho como algo edificante, trabalho-criação, quando esse processo possibilita ao homem em si reconhecer-se no produto do seu trabalho. Quando esse trabalho torna o homem livre, com possibilidades de usufruir do produto final do seu esforço, quando esse trabalho é sinomino de crescimento pessoal.
(Des) valor quando o trabalhador perde a dimensão lúdica do trabalho e fica apenas com a parte obrigatória, trabalho-sobrevivência, quando o trabalhador vende a sua força de trabalho, tornando-se mercadoria nas mãos do capitalista.
“de acordo coma sua natureza contraditória e contrastada, o modo de produção capitalista vai um muito mais longe, o desperdiçar da saúde e da vida do trabalhador, a degradação das suas condições de vida, fazem parte, para o capitalista, da economia na utilização do capital constante e constituem meios de aumentar a taxa de lucro.Como o operário passa a maior parte da sua vida no processo de produção, as condições do processo de produção são, em grande parte, as condições do seu processo vital activo, as suas condições de vida , e a economia(no sentido de poupança) é nessas condições de vida um método para elevar a taxa de lucro.... ” (Marx, K. 190,1975)
    
Dessa forma fica-nos a reflexão
Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e actividades são tragadas pela cobiça.” Karl Marx
Essa frase de Marx nos mostra a essência do trabalho e a que o mesmo no sistema de produção capitalista nos reduz. Valor teria se o trabalho proporcionasse ao homem concomitantemente comer, beber, comprar livros, ir ao teatro, pensar, amar....
TRABALHO EIS AI O FIM DO HOMEM!    


Referencias Bibliográficas
Marx, K. Textos Econômicos. Edições Mandacaru. SP 1990 ‘na coleção biblioteca do socialismo cientifico, n 6’
Marx, K. Textos Filosóficos. Edições Mandacaru. SP 1990 ‘na coleção biblioteca do socialismo cientifico, n 5’
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos, Apud, LIMA, Carlos. Globalização e fala humana no contexto neoliberal, In, Educação: Nave do futuro, PA, Labor Editorial, 2000.
Por Paula Fernanda Menezes de Menezes

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