Eduardo Galeano - O sistema/ 2
(Retirado do Livro dos Abraços)
Tempo dos camaleões: ninguém
ensinou tanto a humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se
culto quem oculta, rende-se culto a cultura do disfarce. Fala-se a dupla
linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade,
dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer. A moral para fazer
se chama realismo.
A lei da realidade e a lei do
poder. Para que a realidade não seja irreal, dizem os que mandam, a moral deve
ser imoral.
Celebração das bodas entre a
palavra e o ato
Leio um artigo de um escritor de
teatro, Arkadi Rajkin, publicado numa revista de Moscou. O poder burocrático,
diz o autor, faz com que os atos, as palavras e os pensamentos jamais se encontrem:
os atos ficam no local de trabalho, as palavras nas reuniões e os pensamentos
no travesseiro.
Boa parte da força de Che Guevara, penso, essa
misteriosa energia que vai muito alem de sua morte e de seus equívocos, vem de
um fato muito simples: ele foi um raro exemplo dos que dizem o que pensam e
fazem o que dizem.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE são tão poucos os que pensam e fazem o que pensam. A verdade é que lá fora existe uma sociedade tão brutal quanto a cadeia alimentar, carregar um feixe de princípios lá fora é como se equilibrar em uma corda alçada de um penhasco a outro sem cair. Guevara, Ghandi, Mandela foram alguns grandes espíritos que pensaram e agiram e por isso são lembrados. A realidade hoje é a dos falsos moralistas aqueles que carregam uma alma suja e pregam um codigo moral totalmente reto, desses eu tenho nojo. Abraços!
ResponderExcluir